Grave seca atinge todo o território de Portugal
2005-07-22
Uma grave seca já afeta todo o território de Portugal. Segundo um relatório do Instituto Nacional de Água divulgado ontem, a situação é dramática: em 80% do território, a seca é considerada extrema e, em 20%, severa. O Ministério do Meio Ambiente advertiu que até o fim do mês a situação em todo o país será de seca extrema, categoria mais alta na escala de gravidade.
A seca é a pior desde que o fenômeno passou a ser registrado em Portugal. Segundo cientistas, trata-se de um fenômeno que, pelo menos nas regiões do norte do país, só acontece a cada 300 anos. Os dados disponíveis indicam que a cada dez anos se repete o problema da seca, mas que esta é a pior dos últimos 60 anos pelo menos. A falta de chuva explica parte do problema. À rara e total escassez de precipitação se somam as altas temperaturas dos últimos dois anos. Por este motivo, nem sequer escapam da crise regiões do norte de Portugal, que por sua latitude e proximidade ao mar suportam melhor a ausência de chuva.
— Esta seca assume dimensões preocupantes, mas a tendência é que se tornem mais freqüentes e mais intensas devido às mudanças climáticas — disse Hélder Spínola, da associação ecológica Quercus.
Perda no setor agrícola equivale a R$6 milhões
Só no setor agrícola as perdas são em estimadas em mais de dois milhões de euros (quase R$ 6 milhões), ou 1,5% do produto interno bruto do país. Mas os cálculos são provisórios, porque há o risco de perda de cultivos no sul, onde a água destinada à irrigação está sendo desviada para consumo humano.
O governo português concedeu linhas de crédito a agricultores e tenta chamar a atenção da União Européia (UE). A secretária de Agricultura e Pesca da UE, Mariann Boel, está em Portugal para avaliar os danos. O secretário de Meio Ambiente, Humberto Rosa, explicou que em algumas regiões a situação é de seca persistente: mesmo que chova muito nas próximas semanas ou meses, o problema não seria resolvido. - Temos um problema muito sério e poucos meios para resolvê-lo -, disse ele ao Jornal de Negócios. O governo tomou medidas de emergência para controlar a abertura irregular de poços e criou uma taxa suplementar para grandes consumidores de água, de modo a inibir os gastos. O consumo humano está garantido, mas 26 mil portugueses já dependem de caminhões-pipa para o abastecimento diário.
Às perdas na agricultura se soma o aumento dos gastos com a produção de energia em centrais térmicas. Há ainda o problema dos incêndios, que se multiplicaram, ao mesmo tempo em que a falta de água em reservatórios dificulta o combate ao fogo. Mais de 700 bombeiros combatiam ontem vários incêndios. O mais preocupante continuava descontrolado, obrigando ao fechamento da estrada que liga Lisboa a Porto. (O Globo, 21/7)