Agrotóxicos podem afetar quatro gerações, diz estudo feito nos EUA
2005-07-22
Agrotóxicos que afetaram a saúde de uma pessoa podem provocar danos a seus descendentes por até quatro gerações, segundo pesquisadores da Washington State University. A equipe de cientistas obteve evidências de que algumas doenças hereditárias podem ser causadas por venenos que poluem o útero. Pesquisa em ratos sugeriu que toxinas ambientais produzidas pelo homem podem alterar a atividade genética, permitindo o surgimento de doenças que são transmitidas por pelo menos quatro gerações. A pesquisa foi publicada pelo jornal Science.
Os cientistas expuseram duas ratazanas grávidas a agrotóxicos durante o período em que o sexo dos fetos estava sendo determinado. Os produtos químicos eram vinclozolin, fungicida muito comum em vinhedos, e o pesticida methoxyclor. Os dois são conhecidos como produtos químicos que interferem no funcionamento normal dos hormônios reprodutivos. As ratazanas expostas aos agrotóxicos produziram filhos do sexo masculino com baixa contagem de esperma e fertilidade fraca. Quando esses ratos foram cruzados com fêmeas que não tinham sido expostas às toxinas, ainda assim seus descendentes do sexo masculino apresentaram o mesmo problema. O efeito persistiu em pelo menos quatro gerações, prejudicando a fertilidade de mais de 90% dos machos de cada geração.
Os pesquisadores constataram que o dano não foi causado por alterações no código do DNA, mas por alterações na forma com que os genes operam. Essas mudanças epigenéticas são provocadas por partículas químicas que aderem ao DNA, modificando sua atividade. As alterações epigenéticas já eram conhecidas, mas não se sabia que eram transmitidas às futuras gerações.
Câncer
O pesquisador chefe, Michael Skinner, acredita que elas podem contribuir para doenças como câncer de seio e de próstata. As duas doenças estão se tornando mais comuns, e Skinner diz que isso não é devido apenas a mutações genéticas. Os pesquisadores acreditam que a exposição a toxinas ambientais pode ter um papel importante no processo evolucionário.
A evolução pode não ser provocada integralmente por mutações genéticas, como era comum acreditar. - É uma nova forma de pensar sobre a doença -, disse Skinner. - Acreditamos que esse fenômeno será um fator importante para entender como a doença se desenvolve. Mas Skinner enfatizou que é necessário pesquisar mais para reforçar essas constatações. Os níveis de produtos químicos a que os ratos foram expostos foram elevados, muito mais altos do que as pessoas enfrentam normalmente. O professor Alan Boobis, toxicologista do Imperial College London, disse à BBC que as constatações são interessantes, mas não há necessidade de as pessoas ficarem assustadas. - Esse efeito provavelmente depende da concentração e esses animais foram expostos a níveis muito elevados de produtos químicos -, disse. - Precisamos descobrir se esse efeito transgeracional se traduz em doses muito mais baixas. (Eco Agência, 21/7)