Poluentes da CVRD e CST atingem Ilha do Boi (ES)
2005-07-21
São originários de carga industrial (leia-se usinas da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e Siderúrgica de Tubarão (CST), 43,6% das PM-10 (partículas inaláveis de poluição) lançados sobre os moradores da Ilha do Boi. Poluentes deste tipo também afetam de modo considerável os moradores de Vila Velha, situados próximos da Escola Aprendizes de Marinheiros.
A constatação de que os poluentes que chegam a Ilha do Boi são de carga industrial foram feitas em pesquisa realizada pelo físico Paulo Antônio de Souza, da CVRD. Doutor na área, ele identifica os materiais com tecnologia de ponta, aplicada inclusive em atividades espaciais.
Em sua palestra, realizada nesta quarta-feira (20/07) no seminário sobre qualidade do ar realizado em A Gazeta, em nenhum momento o físico citou a CVRD como fonte da poluição. Disse que os poluentes registrados na pesquisa são de carga industrial, apenas. Embora em menor escala, os poluentes particulados registrados na Ilha do Boi são também produzidos pela Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) - Arcelor.
A CST - Arcelor tem como especialidade a poluição por derivados do enxofre: há 21 anos, apenas por economia, a empresa deixou de tratar os gases que lança na atmosfera. Já a CVRD é grande especialista em poluentes particulados, como os PM-10 originados da pelotização do minério.
A pesquisa do físico foi realizada para caracterizar os tipos e a origem da poeira coletada na cidade. A caracterização dos poluentes é feita a partir de elementos físicos, químicos e mineralógicos. Os instrumentos utilizados são tão precisos que podem diferençar a hematita de fonte industrial, da hematita natural. Idem para outros minerais, como a ilmenita e o titânio.
A pesquisa foi realizada durante cinco anos, totalizando 60 amostras. Dos estudos, a conclusão de que, das PM-10 encontradas na Ilha do Boi, 43,6% são de carga industrial, além de outros 18,8% de carvão industrial, 12,6% oriundos de processos de sinterização, entre outras fontes.
A pesquisa sobre o DNA da poluição na Grande Vitória em quatro pontos aponta diversificação das fontes de poluição. No material coletado na Ufes, por exemplo, a poluição é originada principalmente de atividades como as da construção civil (31,3%) e em atividades em pedreiras (19%).
No material coletado na estação próxima do hospital Dório Silva, em Laranjeiras, na Serra, ruas não pavimentadas respondem por 32,9% da poluição, 14,7% são oriundas da construção civil, 12,9% das queimadas e 6,6% por veículos automotores, segundo os dados divulgados pelo físico Paulo Antônio de Souza.
O físico aponta que o conhecimento das fontes de poluição permitem à sociedade direcionar suas demandas - pavimentação de ruas, por exemplo -, e à indústria e ao poder público, buscar e cobrar soluções.
O equipamento instalado na Ilha do Boi para a pesquisa é o Mimos III, um espectômetro de massa miniaturizado, cedido pela Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos. Em Vitória também é empregado analisador químico.
O físico aponta a necessidade que os estudos sejam continuados. Lembra ainda que também é preciso publicar os resultados. Como os seus estudos foram publicados em Nature, revista científica de grande conceito.
O físico não informou em sua conferência, mas as poluidoras sabem quais poluentes lançam no ar, pois têm coletores na boca das chaminés. Os coletores também quantificam as emissões. O Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) também é obrigado a ter estes dados e também por disponibilizá-los ao público.
Mas o Iema e as poluidoras não disponibilizam estas informações à sociedade, que só tem conhecimento dos dados apurados na Rede Automática que monitora o ar na Grande Vitória. (Século Diário, 20/7)