Megadiversidade traz balanço da conservação no Brasil
2005-07-20
A proeminência da biodiversidade no Brasil e a situação de sua conservação, sob o ponto de vista de 55 especialistas brasileiros e estrangeiros, são o tema central de duas publicações científicas, lançadas durante o XIX Congresso Internacional da Sociedade para a Biologia da Conservação. O evento aconteceu em Brasília, de 15 a 19 de julho.
Em 26 artigos, inicialmente publicados como seção especial da revista Conservation Biology, editada para o Congresso, cientistas analisam os dados existentes para os vários grupos de fauna e flora, refletem sobre a história brasileira do ambientalismo, indicam o estado de conservação dos principais biomas do país e ainda debatem temas críticos como reforma agrária, mecanismos financeiros para a conservação, desenvolvimento de infra-estrutura e questões indígenas.
Numa iniciativa inédita, a Conservation Biology fez um acordo com a Conservação Internacional (CI), permitindo que os artigos fossem traduzidos para o português e compusessem a primeira edição da revista Megadiversidade. A base científica no Brasil - Vários artigos destacam a força dos estudos brasileiros sobre conservação. - Hoje existe uma base científica competente e crescente no Brasil, bem mais sólida que a de outros países tropicais. A capacidade de pesquisar uma grande variedade de disciplinas que tratam da conservação é substancial e os brasileiros são atores importantes na ciência da conservação em nível internacional -, avalia Gustavo Fonseca, vice-presidente executivo da CI. Os especialistas também concluem que o tipo e a profundidade dos estudos necessários variam substancialmente dependendo da área. A Amazônia, a Mata Atlântica e o Cerrado, por exemplo, precisam de mais pesquisas orientadas para a biodiversidade e a biogeografia. Enquanto que, no Pantanal e na Caatinga, a necessidade é de uma melhor compreensão da dinâmica do ecossistema para instruir o manejo do local.
Desafios e oportunidades - Apesar dos avanços, Gustavo alerta para um grande desafio que se impõe nessa arena, que é o de transferir os resultados científicos para a esfera das políticas públicas. Aliado a isso, os artigos também chamam a atenção para a necessidade de atingir a antiga busca brasileira pela integração nacional, crescimento econômico e redução da pobreza.
Em meio às dificuldades, lacunas de conhecimento e alto grau de ameaças presentes em todos os biomas do país, um senso de oportunidade surge da maioria dos artigos. Os autores apontam para soluções criativas de conservação e exploração sustentável de áreas biológicas. Dessa forma, deixam lugar para um otimismo cauteloso desde que as autoridades de poder decisório façam escolhas que favoreçam a sustentabilidade ambiental e econômica, em vez de ganhos no curto prazo.
Megadiversidade - O termo megadiversidade, hoje amplamente utilizado, foi criado em 1988 por Russell Mittermeier, presidente da CI, para indicar os países mais ricos em biodiversidade do planeta. José Maria Cardoso da Silva, vice-presidente de ciência da CI-Brasil, explica que sua utilização na revista tem o objetivo de destacar a magnitude do problema de conservação da biodiversidade no país, que ocupa o primeiro lugar entre os países de Megadiversidade do planeta.
- Tornou-se necessária a criação de uma revista científica que agilizasse a publicação de trabalhos feitos não só pelos pesquisadores da Conservação Internacional e instituições parceiras, mas também pela comunidade científica em geral. Nesse sentido, Megadiversidade surge como parte das comemorações dos 15 anos da organização, com o objetivo de publicar artigos científicos que contribuam significativamente para a conservação da biodiversidade no Brasil -, explica José Maria. A revista será uma publicação trimestral. A seção Publicações do website da Conservação Internacional (www.conservacao.org) informa as regras para submissão de artigos e traz uma versão eletrônica da revista.
Corredores Ecológicos - Durante o Congresso, a Conservação Internacional também lança o livro Os Corredores Ecológicos das Florestas Tropicais do Brasil, em parceria com o Instituto Mamirauá. A publicação traz a versão original do projeto para a conservação da biodiversidade das florestas amazônicas e da Mata Atlântica, como solicitado pelo Ministério do Meio Ambiente e o PPG-7. É o resultado de oito meses de trabalho de um grupo de consultores e colaboradores de várias instituições do Brasil e exterior. Além de uma estratégia para a conservação da biodiversidade, os autores discutem a necessidade de grandes espaços de conservação no âmbito das políticas públicas em meio ambiente e inovaram ao propor a manutenção ou formação de conectividade entre áreas protegidas. (Amazônia.org.br, 19/07)