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2005-07-20
Teve bate-boca e saia-justa, aplausos e vaias para todo lado. O ministro Ciro Gomes, da Integração Nacional, defendeu o polêmico projeto de transposição de águas do rio São Francisco -que ele chama de - integração de bacias hidrográficas- para um auditório repleto na 57ª reunião anual da SBPC (Associação Brasileira para o Progresso da Ciência). - Várias pessoas me aconselharam a não vir, disse o ministro. Não só porque o tema desperta grandes paixões no Nordeste, o que se notou pela explosiva reação da platéia em vários momentos, mas também por causa da atual crise política. Ciro também teve de defender o governo do presidente Lula.

O ministro defendeu que a troca do nome do projeto não é um mero artifício marquetológico. - É um projeto de segurança hídrica para 12 milhões de nordestinos, afirmou Ciro. - Não acaba com a seca, que é um fenômeno natural, nem resolve todos os problemas.

Ele lembra que o projeto foi modificado desde que foi concebido, incorporando críticas feitas por opositores. A idéia, resumidamente, consiste na construção de dois canais para levar água do São Francisco para regiões mais ao norte da região. Originariamente se cogitou retirar água do rio a uma vazão de 300 metros cúbicos por segundo. Depois se reduziu a vazão para 63 metros cúbicos por segundo, e agora o projeto prevê apenas 26 metros cúbicos por segundo, somente para consumo humano e animal. O projeto também prevê agora o uso do excesso de água em caso de a barragem da usina de Sobradinho vertê-la.

- Isso é só 1,4% da vazão mínima na foz do rio, diz o ministro. Seriam construídos 720 km de canais, em dois eixos (norte e leste), e se prevê que cerca de 1.000 km de rios secos da região se tornariam perenes. Segundo o ministro, o projeto está em processo de licitação, e no próximo dia 28 deverão ser abertas as propostas das construtoras para os 14 lotes da obra, que duraria 24 meses. O projeto total inclui também estações elevatórias e pequenas hidroelétricas, a um custo de cerca de R$ 4,5 bilhões.

Problemas do rio
Ciro diz que muitas das críticas ao projeto vêm por conta dos vários problemas do rio em seus 2.700 km. O São Francisco está ferrado, repetiu várias vezes. Foram destruídas 95% das suas matas ciliares, ele está em boa parte assoreado, recebe esgoto de 250 cidades e lixo de outras 170 e possui um trecho onde ocorre transmissão de esquistossomose.

Segundo o ministro, o padrão mínimo de acesso à água foi estabelecido pela ONU como sendo de 1.500 metros cúbicos por habitante por ano. Na área da bacia do São Francisco o índice é de 4.500 metros cúbicos, e apenas 450 na área de influência do projeto.

Ele chamou de argumentos egoístas, mas respeitáveis aqueles feitos por opositores do projeto que dizem que a água deveria ser usada nos Estados de origem. - Um governo de quatro anos ficou dois anos e meio comprometido com o diálogo, diz ele, lembrando as várias audiências públicas sobre o projeto, uma das quais envolveu até violência pública contra funcionários do Ibama por opositores do projeto.

- Não é verdade, gritou várias vezes a professora da UFBA (Universidade Federal da Bahia) Yvonilde Dantas Pinto Medeiros, membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do rio São Francisco. - Eu tenho provas, tenho vídeos, fotos, respondeu Ciro em meio à balbúrdia de aplausos e vaias. Yvonilde fez palestra logo depois do ministro. - Não está claro no projeto quem são os reais beneficiários, diz ela, para quem a bacia doadora da água também deve ser compensada. - Não temos conhecimento das reais necessidades dos consumidores.

Para Yvonilde, - esse governo não tem sabido discutir o problema, e seria difícil implantá-lo agora, nesse momento até de choque de credibilidade. Apesar da escassez no semi-árido - o Nordeste é rico em água, diz Aldo Rebouças, da USP. - Sabendo usar não vai faltar.

Já o secretário de Infra-Estrutura Hídrica do ministério de Ciro, Hypérides Pereira de Macêdo, defendeu a transposição como um modo de também aumentar a segurança.em relação ao abastecimento de água na região nordestina. - Bastam quatro rodas, mas ninguém viaja sem um estepe, disse ele. - Esses 26 metros cúbicos por segundo são o estepe. (FSP, 19/07)

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