Polícia militar apreende madeira em Aracruz
2005-07-20
Em ação que contraria recomendação do Ministério Público Federal (MPF), a Polícia Militar apreendeu um caminhão transportando madeira dos índios capixabas, neste domingo (17/07), em Vila do Riacho, Aracruz. O produto fora retirado das terras homologadas como indígenas e tinha toda a documentação em situação regular.
Para os índios, o fato comprova que a Aracruz Celulose não desistirá de usar seus meios para intimidá-los, como também faz através de sua milícia armada, a Visel. - A empresa está querendo nos intimidar. Vamos continuar denunciando isso até quando?, ressaltou Jaguareté, cacique de Caieras Velha, de origem tupinikin. Segundo ele, as denúncias de intimidação da multinacional nas terras indígenas não estão servindo para proteger os índios das ações da empresa. Apesar disso, eles decidiram levar o fato novamente ao Ministério Público Federal, para que o órgão apure o motivo da apreensão.
Esta não é a primeira vez que os índios têm seus caminhões de madeira apreendidos sem nenhuma explicação. Em reunião entre representantes da Aracruz, Visel, índios e o Ministério Público, na última quinta-feira (14/07), a Polícia Militar disse que as apreensões são feitas a partir de denúncias, que afirmam serem as madeiras roubadas.
A partir disso, o índios questionam: - De que serve a documentação, se para os policiais isso não importa? Qualquer pessoa pode ter seu caminhão apreendido a partir de uma denúncia, mesmo que não encontre nenhum indício para comprová-la?
O fato foi questionado também pelas entidades que apoiam os índios, inclusive com o acompanhamento de advogados, que alertam para a apreensão de caminhões com documentos legais, a partir de denúncias sem fundamento. Assim, pedem a abertura de inquérito, e que sejam tomadas providências.
Nesta terça (19/07), os índios se reúnem para articular como serão as próximas ações. Eles garantem que está terminantemente proibida a entrada da Visel e da Aracruz Celulose nos 18.070 hectares de terras indígenas no município de Aracruz. Nestes estão incluídos os 11.009 hectares recentemente retomados pelos índios, onde duas aldeias já foram reconstruídas, e os plantios de árvores nativas para a recuperação da área começaram.
A Aracruz Celulose insiste em dizer que a área é dela, mesmo depois de ter sua ação de reintegração de posse negada pela Justiça. Na reunião com o MPF e os índios, a multinacional afirmou que não deixará de entrar na área. Com isso, os índios estão temendo pela segurança dos caciques e lideranças. Uma delas foi seguida por um segurança da Visel às 23 horas do último dia 2. Ele estava armado e num carro sem identificação. Os índios temem ainda a repressão polícial, que não está deixando os índios retirarem as madeiras de suas terras - única fonte de sobrevivência após a chegada da empresa ao Espírito Santo. Também já foram vítimas desse tipo de atuação os quilombolas da região do antigo Sapê do Norte, que compreende os municípios de Conceição da Barra e São Mateus. Muitos negros foram presos pela Visel, que tem o apoio das polícias Militar e Ambiental do norte do Estado. Todos os fatos foram devidamente denunciados aos órgãos competentes, inclusive ao governo federal, mas providências jamais foram tomadas. (Século Diário, 19/07)