Ártico guarda substâncias tóxicas concentradas pela ação de predadores
2005-07-20
O Ártico pode ter sido destituído de qualquer
atividade agrícola ou industrial, mas está, aos
poucos, tornando-se um grande aterro de poluentes. O fenômeno é conhecido como efeito
gafanhoto, porque os contaminantes - incluindo
os poluentes orgânicos persistentes (POPs), como PCBs
e DDT - tendem a evaporar em zonas mais
temperadas onde são produzidos, migram através das
correntes do ar e condensam-se nas regiões
polares.
— O que temos visto nos últimos 15 anos é que o
Ártico age essencialmente como um repositório de
muitos produtos químicos industriais, diz Jules M.
Blais, biólogo, professor da Universidade de Ottawa.
Mas a distribuição desses contaminantes pelo Ártico
não é uniforme. - Alguns lugares têm muito,
outros têm pouco, afirma ele.
Blais e seus colegas agora conseguiram mais uma
explicação: os pássaros marítimos, segundo escreveram
na revista Science, podem concentrar os contaminantes
em uma pequena área. Os pesquisadores estudaram
efeitos de uma colônia de fulmares - uma espécie
de pássaro - ao norte da Ilha de Devon, no
Ártico canadense. Cerca de 20 mil pássaros vivem ao
longo de pedras de 800 metros de altura, acima de uma
série de lagos. Os pássaros alimentam-se de peixes,
lulas e outros alimentos vindos do oceano, e seus
resíduos são levados abaixo através das pedras, para
os lagos. Todos os nutrientes nos resíduos vão parar
nos lagos mais próximos, abundantes em vida -
musgos, insetos e mesmo pequenos pássaros - onde
sobrevivem em uma paisagem gélida. Segundo o Dr Blais,
os pássaros sustentam todo um ecossistema abaixo de
onde eles estão aninhados. Mas análises dos sedimentos
dos lagos mostram que os pássaros também estão
repassando DDT, mercúrio e outros contaminantes. Os
lagos mais próximos aos ninhos apresentam mais
toxinas.
Os pássaros estão localizados relativamente acima na
cadeia alimentar, diz o Dr. Blais. - As coisas de
que eles têm se alimentado têm bioconcentrado as
substâncias químicas, afirma. - Essencialmente,
os pássaros estão afunilando uma grande masssa de
carnívoros marinhos como peixes e lulas em pequenas
áreas onde estão aninhados, acrescenta o
cientista.
O Dr. Blais afirma que a colônia de pássaros fulmar
era uma colônia típica do Ártico, e provavelmente haja
muitas outras páreas com concentrações de
contaminantes. - A preocupação é que a
contaminação está acontecendo precisamente em áreas
que são pontos focais de atividades biológicas no
Ártico, assinala.
Predadores e Presas
Para uma aranha, por exemplo, uma colônia de
insetos tem uma importância, mas para uma grande mosca ou
traça, outra bem diferente. Uma grande refeição pode
oferecer mais calorias para a aranha do que dezenas de
pequenas refeições. Mas caçar uma grande presa é um
raro evento para a maioria das aranhas.
Dado esse raciocínio, espera-se que uma pequena aranha
possa construir sua teia com a idéia de pegar o maior
número de grandes presas possível. E esta foi a
conclusão de um estudo de cientistas franceses da
Sociedade Real. Os pesquisadores estudaram o tamanho
da teia e a presa capturada pelas espécie de aranha
que as construíram - Zygiella x-notata -,
que sempre reconstrói sua teia de forma circular. Eles
concluíram que as fêmeas adultas conseguem, em média,
pegar menos de duas presas por dia. Dessas, 84% são
muito pequenas, com o tamanho do corpo menor que uma
polegada. Apenas 3% têm corpos grandes, de duas a
cinco vezes uma polegada. Mas, conforme os
pesquisadores, apenas uma dessas presas poderia
fornecer uma quantidade de energia equivalente à de
pequenas presas caçadas por 60 dias.
Os pesquisadores também criaram uma simulação para
determinar o efeito do tamanho das presas caçadas na
sobrevivência da aranha. Concluíram que as aranhas não
poderiam sobreviver somente com pequenas presas, que
precisavam da energia das grandes refeições
ocasionais. Mais recentemente, os cientistas
descobriram que o aumento da teia aumentaria o número
de presas caçadas, o que aumentaria, por sua vez, as
chances de captura de presas maiores.
(Fonte: The New York Times, 19/7)