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2005-07-20
Resumo: As palmeiras figuram entre as espécies vegetais mais importantes aos animais, já que seus frutos são bastante nutritivos e estão disponíveis geralmente em épocas de escassez de alimentos. Uma gama de animais alimentam-se de seus frutos, incluindo aves, morcegos, mamíferos não voadores, répteis, peixes e insetos. As palmeiras com frutos grandes apresentam, entretanto, limitação na dispersão de suas sementes, pois apenas poucas espécies animais podem atuar como dispersoras. As florestas tropicais vêm sofrendo da chamada síndrome de florestas vazias, onde interações mutualísticas e agonísticas entre animais e plantas já foram perdidas, pela ausência de dispersores e predadores de sementes e herbívoros de grande porte.

O primeiro capítulo teve como objetivo verificar os frugívoros que dispersam e predam as sementes da palmeira brejaúva, Astrocaryum aculeatissimum, bem como avaliar as proporções de predação das sementes por invertebrados e o recrutamento de plântulas próximos às plantas-mãe. No segundo capítulo foi avaliado o efeito da defaunação, relacionado a abundância de cutias, na remoção e na distância de dispersão das sementes. A predação por invertebrados e o recrutamento de plântulas e jovens ao redor da planta mãe também foram comparados em cinco áreas na Mata Atlântica com diferentes abundâncias de cutias. As hipóteses testadas foram que as áreas com baixas abundâncias de cutias apresentariam uma menor remoção das sementes, uma maior predação por invertebrados e um menor recrutamento de plântulas. Além das cutias (Dasyprocta spp.), ratos de espinho (Trynomis iheringi) e esquilos (Sciurus aestuans) também foram os responsáveis pela remoção de sementes e atuaram mais como dispersores do que predadores nos cinco dias de exposição das sementes. A massa das sementes não mostrou relação com a remoção pelas espécies animais. Sementes mais pesadas foram levadas a maiores distâncias da planta-mãe e as sementes predadas foram levadas a maiores distâncias do que as sementes dispersas. As áreas mais defaunadas mostraram uma menor porcentagem de remoção de sementes, bem como de predação e dispersão.

A proporção de endocarpos predados por vertebrados foi maior na área com maior abundância de cutias (Ilha Anchieta) e as proporções de endocarpos intactos e predados por invertebrados foram maiores na área com menor abundância (Xixová Japuí). O recrutamento de plântulas embaixo das plantas-mãe amostradas não mostrou diferença significativa entre as áreas. O número de plântulas de Astrocaryum aculeatissimum nos 0,8 ha amostrados em cada área foi maior na Ilha do Cardoso, onde há também uma alta densidade de cutias e o menor recrutamento foi encontrado em Xixová Japuí, a área mais defaunada. Como a espécie estudada não é dispersa por uma grande diversidade de frugívoros, mudanças sutis na composição faunística do local podem ter efeitos cruciais na população da brejaúva a longo prazo. O estudo mostrou que o decréscimo populacional de cutias diminui a remoção, a predação e a dispersão de sementes, aumenta a proporção de sementes predadas por invertebrados embaixo das plantas-mãe, diminuindo o recrutamento das plântulas de Astrocaryum aculeatissimum.
Instituição: Universidade de São Paulo (USP).
Autor: Camila Lotte Donatti.
Contato: e-mail> cdonatti@terra.com.br

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