Mamona: do biodiesel à lubrificantes para a aeronáutica
2005-07-19
Incentivada pelo governo Federal como mais uma fonte para a produção de biodiesel, a mamona tornou-se mais do que uma opção de diversificação de renda para o agropecuarista Eduardo Pitelli. Para aprender a lidar com a cultura, o produtor destinou 10 alqueires de sua fazenda em Jataizinho para o cultivo da planta. Em seis meses, não precisou fazer nenhuma intervenção na lavoura, que rendeu duas colheitas.
Impulsionado pelos bons resultados da mamoneira em Jataizinho, Pitelli investiu na cultura em outros 60 alqueires de uma propriedade arrendada pela família em Teodoro Sampaio, interior de São Paulo. - Começamos com 60 e já estamos com 160 alqueires plantados. A nossa meta é aumentar a área para 400 alqueires na próxima safra -, diz.
O motivo de tanto entusiasmo, explica o produtor, é o baixo custo de produção, a rusticidade da planta e a renda garantida pela assinatura de contratos prévios de venda do produto. - A seca nos impediu de plantar a soja e como a área ia ficar descoberta, resolvemos investir na diversificação. E deu muito certo -, afirma. Toda a produção de mamona já tem mercado garantido: indústrias de óleo de São Paulo e também do Paraná. O agropecuarista ressalta que parte da produção será entregue a uma empresa de Cornélio Procópio, que pagará R$ 36/saca. O restante da mamona será descascado e vendido em São Paulo. Neste caso, o produtor preferiu agregar valor ao produto, que será comercializado a R$ 48/saca.
Segundo Pitelli, o investimento na compra da máquina para descascar é baixo, cerca de R$ 12 mil. - Com a colheita já seria possível adquirir a máquina -, calcula. Entretanto, o produtor ainda não decidiu se irá comprar o equipamento ou terceirizar o serviço. - Estou pensando em negociar um novo preço com a empresa que irá comprar a produção -, completa.
Apesar do sucesso da experiência, o agropecuarista reclama da falta de informações quanto a um novo sistema de produção. - Muita coisa mudou em relação ao plantio da mamona. As variedades e o manejo são diferentes dos praticados antigamente, mas ninguém sabe ao certo como funciona este novo sistema produtivo. Tivemos de aprender com a prática -, assinala Pitelli.
Planta precisa de clima quente e pouca chuva
De origem tropical, a mamona é bastante resistente à seca e requer apenas 500 milímetros de chuvas por safra. A temperatura do ar deve ser superior a 20 graus e altitudes superiores a 400 metros favorecem o cultivo, cujo ciclo tem duranção de seis meses, em média. A mamona rende melhor em solos com PH próximo a neutralidade. Devem ser evitados solos muito argilosos, sujeitos a encharcamento, e os de elevado teor de sódio. A área a ser plantada deve ser, de preferência, plana ou suavemente ondulada, e o plantio deve ser feito em nível.
De acordo com o produtor Eduardo Pitelli, a produtividade ideal para a viabilidade do cultivo da mamona deve ser de pelo menos 40 sacas/alqueire. Em Teodoro Sampaio, o produtor já garantiu 50 sacas/alqueire, pois o terreno é favorável ao cultivo. Ele ressalta que a mamona precisa de solos férteis, que permitam o enraizamento da planta, e clima quente. - A mamona não gosta de muita chuva. Descobrimos que quando a umidade é grande, os cachos mofam -, explica. A variedade escolhida pelo agropecuarista para ambas as áreas é ideal para a colheita manual devido ao porte alto. Entretanto, Pitelli aponta para a existência de uma variedade de porte menor, que produz apenas um cacho, e é colhida mecanicamente. - Neste caso é feita uma adaptação simples na plataforma da colheitadeira de milho. Durante a colheita, a máquina destrói as árvores, que devem ser replantadas para a próxima safra.
Para o produtor, é compensatório replantar a mamoneira devido ao baixo custo das sementes e a facilidade no trato cultural. - As sementes têm alto poder de germinação e podem ser armazenadas. O que não pode faltar é a adubação do solo -, conclui.
Colheita requer mão-de-obra
A colheita deve ocorrer com o ambiente seco e quando dois terços dos frutos dos cachos estiverem maduros, com coloração marrom. Pode-se realizar uma única colheita pois, nas cultivares atualmente utilizadas, as sementes não caem no chão. O produtor ainda tem a opção de escalonar a colheita, que deverá ser proporcional ao número de cachos por planta.
Em condições de sequeiro são produzidos de três a 10 cachos por planta. Os cachos devem ser cortados, colocados em balaios e levados para terreiros para secagem ao sol por um período de dois a cinco dias. Este processo é necessário para que as sementes se soltem dos cachos. Para o beneficiamento há máquinas manuais simples ou equipamentos elétricos.
Em Jataizinho, a primeira colheita da mamona na Fazenda Floresta durou dois meses e a segunda está quase no fim. As sementes tiveram 100% de germinação e as perdas na coleta das bagas, segundo o agropecuarista Eduardo Pitelli, foram de 40%. - Não tivemos lucro com esta área porque a produtividade foi baixa devido ao terreno pedregoso -, diz. Em Teodoro Sampaio, a colheita começará nas próximas semanas e poderá durar até 45 dias. O trabalho é manual e irá empregar 25 homens. - Cada empregado deverá colher em média 10 sacas/dia -, calcula. O produtor explica que os funcionários receberão por balaio colhido, sendo que cada balaio contém cerca de 20 quilos de mamona. - Por dia, cada trabalhador irá receber até R$ 30 -, afirma.
Em Carlópolis, produtores têm venda garantida
Há mais de 40 anos no mercado a indústria A.Azevedo, de Itupeva, interior de São Paulo, tem incentivado o plantio de mamona na região de Carlópolis (80 km ao sul de Jacarezinho). Com o apoio da prefeitura e da Emater local, os produtores têm garantido o abastecimento da indústria que, por sua vez, assegura preço mínimo para a compra da matéria-prima. Segundo Antônio Nésio, representante da empresa paulista, o produtor tem recebido até R$ 40 líquidos/saca. - Além de garantir a compra da produção, vendemos as sementes a preço de custo e fornecemos um manual de boas práticas agrícolas para o cultivo da mamona -, diz. - O beneficiamento da mamona também fica por conta da indústria, que realiza o pagamento sempre à vista -, completa Nésio.
O advogado Carlos Salles é um dos incentivadores da mamona em Carlópolis, onde, os primeiros plantios começaram no ano passado. Hoje, o projeto conta com cerca de 80 pequenos e médios produtores, que estão finalizando a colheita. - Os agricultores que plantaram a mamona em consórcio com o café foram os que tiveram mais sucesso -, assinala.
Óleo muito nobre para queimar
Dados da Embrapa Algodão, na Paraíba, apontam que a tecnologia utilizada no cultivo da mamona pouco tem evoluído. São definidos, basicamente, dois tipos de sistema de produção. No primeiro, a cultura assume papel social de grande relevância. A força de trabalho familiar explora pequenas áreas, sempre em regime de consórcio com o feijão e o milho. Neste sistema não existe mecanização nem utilização de insumos modernos, como sementes melhoradas, defensivos e fertilizantes. No segundo sistema, o cultivo assume caráter mais comercial, com a participação da tração mecânica e a utilização de insumos modernos.
Para o consórcio com o feijão a orientação é que a leguminosa seja plantada 15 dias depois do plantio da mamona. O produtor deve usar cultivares resistentes a viroses, de ciclo curto, hábito de crescimento determinado e porte ereto, para evitar ou reduzir ao máximo a competição com a mamona. Outros consórcios estão sendo estudados envolvendo o gergelim e o amendoim. Já o consórcio com o milho e o sorgo deve ser evitado, pois essas gramíneas são muito competitivas e reduzem a produtividade da mamoneira.
A mamoneira, tanto em sistema de cultivo solteiro como consorciado, é muito sensível à competição com plantas daninhas, que podem reduzir bastante sua produtividade. O período crítico de competição e que exige maior controle são os primeiros 70 dias após a emergência das plantas. Nas condições de clima e de solo do Nordeste do Brasil, em especial no semi-árido, as doenças da mamoneira são muito poucas, não tendo expressão econômica. A principal doença da mamoneira é o mofo cinzento, causado pelo fungo Botrytis ricini, que ataca e destrói toda a estrutura floral e de frutificação da planta. Para o controle deve-se eliminar os restos culturais e fazer a rotação de culturas.
Exportações absorvem a produções
Em âmbito nacional, o Nordeste é responsável pelas maiores produções de mamona, com destaque para o estado da Bahia. Dos 202,8 mil hectares (ha) destinados à cultura na região, as lavouras baianas ocupam 162,4 mil ha. Ao todo, o Brasil possui 208,1 mil ha, que produzem em média 983 quilos (kg)/ha, conforme informa o último levantamento de safra realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em junho deste ano.
Na região sul, o Paraná destaca-se como principal produtor, com uma área de 1 mil ha e produtividade de 1,4 mil kg/ha. Dados do Departamento de Economia Rural (Deral) apontam que até agora foram colhidas 1.129 toneladas de mamona no Estado. Segundo Gilka Cardoso Andretta, responsável pela divisão de estatísticas do Deral, o município de São Jerônimo da Serra (78 km ao sul de Cornélio Procópio) é onde concentram-se as lavouras paranaenses, com 146 ha e uma produção de 256 toneladas em 2004.
O Brasil que já foi o maior produtor mundial de bagas de mamona e o maior exportador de óleo. Nos últimos anos, o País vem perdendo a condição de primeiro produtor para a Índia e a China, respectivamente. Dados da Conab, apontam que a maior parte da produção nacional é exportada, principalmente para a Europa. Em 2004, a tonelada da mamona brasileira alcançou preço médio de R$ 750, conforme aponta Gilka. A recomendação da técnica do Deral é para a venda antecipada da mamona, através de contratos antes mesmo do plantio. (Página Rural, 18/07)