Retorno das empresas brasileiras de celulose atrai investidores
2005-07-18
O sueco Nils Grafström, vice-presidente-executivo da Stora Enso Oyj e presidente da Stora Enso na América Latina, tem, entre suas responsabilidades, a fábrica da Veracel, no sul da Bahia, em parceria com a Aracruz. A unidade será oficialmente inaugurada no dia 28 de setembro, pelo presidente Lula, embora já esteja em teste operacional desde maio. A seguir, parte da entrevista dada por Grafström.
Esperava-se uma queda nos preços internacionais de celulose e papel neste momento, mas a demanda segue aquecida. O que motivou isso?
No caso da celulose, por conta da falta de madeira de fibra curta na Europa e pela paralisação, no exterior, de algumas fábricas de celulose ou por problemas ambientais ou por falta de madeira. Com isso, houve uma redução substancial na oferta mundial, o que levou ao consumo dos estoques e, conseqüentemente, à manutenção dos níveis de preço.
Os países asiáticos, em especial a China, seguem comprando muito? Qual a expectativa no médio e no longo prazos?
De um modo geral, a China continua crescendo a ritmo forte e, apesar da participação ainda relevante de fibras alternativas como bagaço, palha de trigo e bambu, o país continuará dependendo da importação maciça de celulose, o que beneficia os fabricantes brasileiros. Não por acaso, o primeiro embarque de nossa parcela de celulose da Veracel foi para uma fábrica da Stora Enso na China. Quanto ao papel, em vários segmentos a China já demonstra um turn around do status de importador para exportador, sobretudo focado no abastecimento de países vizinhos.
O senhor acha que há um apetite anormal neste momento das grandes empresas do setor pelo Brasil?
As empresas brasileiras e chilenas de papel e celulose são as que apresentam o maior retorno do setor no mundo. Naturalmente estes resultados despertam a atenção dos possíveis investidores, especialmente num setor ainda muito fragmentado globalmente. Essa é a razão de nossa empresa, líder mundial no setor, ter 50% da Veracel, investimento de US$ 1,2 bilhão.
Até que ponto o fato de termos florestas plantadas traz vantagens ao Brasil?
No Brasil existem diversas áreas com excelentes condições climáticas para o desenvolvimento de florestas plantadas.
Isso, aliado a uma longa experiência e tecnologia de ponta na plantação de árvores, faz com que a matéria-prima seja extremamente competitiva em termos globais. Entretanto o Brasil sofre de problemas estruturais que podem levar à falta de madeira. Há necessidade de uma política de longo prazo para o suporte da silvicultura. Outros fatores preocupantes são a incidência de impostos sobre investimentos e a ameaça de invasão de terras.
Vocês começam a colher os primeiros frutos de seus investimentos no Brasil. Quais os planos da Stora Enso para o País?
Ainda é cedo para cantar vitória, mas a fábrica da Veracel que está ativa há cerca de 45 dias tem produzido acima das nossas melhores expectativas. Ela já está exportando celulose de primeira qualidade para nossas fábricas na Europa e na China. Certamente o sucesso desta operação fará com que tenhamos mais entusiasmo para outros projetos no Brasil e em outros países da AL.
Quais os focos de crescimento no Brasil?
Como já disse, o Brasil apresenta potencial muito bom para a implantação de florestas plantadas fazendo com que produtos como celulose, madeira serrada e outros derivados de madeira sejam interessantes. Temos observado estes mercados como base para futuros investimentos.
Comprar outras empresas, instalá-las, comprar florestas estão nesses planos?
Como em qualquer outro setor, uma vez tomada a decisão de investir, sempre há a possibilidade de comprar ativos existentes e/ou partir do zero como foi o caso da Veracel. O importante é que a compra de um ativo existente possa proporcionar maior valor agregado. Fatores econômicos ditarão a estratégia a ser seguida no futuro. Hoje, os ativos locais estão muito valorizados.
Controle total ou joint ventures? Por quê?
No caso da Veracel, a parceria com a Aracruz tem se mostrado muito produtiva. A sinergia de conhecimentos e experiências dos dois sócios possibilitou um investimento dentro do orçado e em prazo recorde de implantação. No futuro, uma vez tomada a decisão de novos investimentos, a opção de termos um sócio local será sempre considerada em nossos planos.
As empresas de papel e celulose estão investindo nos países emergentes em busca de menor custo. Isso acontece só na celulose? E o papel?
No caso do Brasil e de outros países da América do Sul, a disponibilidade de terras, clima e tecnologia desenvolvida predispõem a investimentos para a produção das matérias-primas básicas. No caso de aumentar o valor agregado, como é o papel, outras variáveis são consideradas como a dimensão do mercado interno, a proximidade com os clientes e os custos de logística. O volume de produção de uma moderna fábrica de papel obriga que se contemple também o mercado externo e como fazer uma distribuição econômica deste volume. Estes fatores fazem com que às vezes não seja competitivo agregar valor junto à produção da matéria-prima.
A questão ambiental foi importante na decisão de buscar os países emergentes em geral e o Brasil em especial?
Nossos investimentos, nos 40 países em que atuamos, são baseados na sua sustentabilidade (econômica, ambiental e social) global. Desta maneira, nossas práticas no campo ambiental são as mesmas em todos os lugares do mundo. No Brasil, a legislação ambiental é muitas vezes mais rigorosa do que a da Europa ou da América do Norte. Mas nos adaptamos. A Veracel só tem plantações em terras já degradadas. Um estudo recente, baseado em fotos de satélite, confirma isso e mostra ainda que, na maior parte dos municípios onde a Veracel tem plantios, houve recuperação da mata atlântica.
(O Estado de S. Paulo, 17/07/2005)