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2005-07-18
Ingrid Holsbach

A falta de estudos sobre o impacto dos plantios florestais no Rio Grande do Sul pode causar um verdadeiro atropelo ambiental . Essa é a opinião do geógrafo e coordenador do Laboratório de Geoprocessamento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Heinrich Hasenack.

O pesquisador coordena um estudo sobre o bioma do Pampa desde novembro do ano passado. Um dos resultados do seu trabalho será um mapeamento para identificar os pontos onde a silvicultura não seria aconselhável e também para indicar áreas onde possivelmente a atividade seria apropriada.

O trabalho da Ufrgs faz parte do ProBio, programa do Ministério do Meio Ambiente que consiste em mapear os remanescentes de vegetação natural de todos os biomas brasileiros. Outras universidade brasileiras farão o mesmo com outros ecossistemas. Os dados sobre a região do pampa - que corresponde a 63% da área do Rio Grande do Sul - são coletados através de imagens captadas por satélites e trabalho de campo realizado por uma equipe, de aproximadamente 15 pessoas, entre professores, pesquisadores e alunos da Ufrgs.

Ao final do trabalho todos os dados estarão disponíveis na internet para acesso público. Outras instituições do país analisam os outros biomas, como a Universidade Federal do RJ, a PUCRJ e o IESB (Instituto de Estudos Ambientais do Sul da Bahia) que juntas ficaram responsáveis pelo mapeamento da Mata Atlântica, por exemplo.

Segundo Hasenack, o Pampa teve um reconhecimento tardio porque a comunidade ambientalista começou a chamar a atenção. Isso pode ser percebido nas unidades de conservação do Estado, por exemplo. A maioria delas são áreas de florestas. — O campo não é melhor nem pior, ele é diferente – diz o professor.

A maior parte do pampa se encontra na Metade sul do estado, vista como atrasada economicamente devido ao sistema de uso da terra: a pecuária extensiva. Porém, segundo Hasenack, se a região tivesse tido outro tipo de desenvolvimento não existiria hoje tanto campo: — O uso atual acabou servindo para conservar o bioma. Há uma pecuária sustentável, feita sob campo natural. É uma situação melhor que as regiões com pastagens cultivadas – afirma o geógrafo. A introdução da soja e do milho nos campos, que aconteceu em outras regiões, como no município de Erechim, visando um maior desenvolvimento econômico, favoreceu a entrada de espécies invasoras, modificando, assim, todo o ecossistema da região.

Quanto à implantação da cultura de florestas plantadas (silvicultura), o grande problema visto por Hasenack é a falta de uma prévia avaliação da área. – O problema é que faltam estudos na área, tudo está sendo feito no atropelo. Um mapeamento nessa área pode servir de subsídio para identificar áreas onde não pode haver silvicultura e indicar também áreas mais aconselháveis – analisa.

Outro projeto realizado pelo mesmo laboratório - em parceria com o Incra – busca auxíliar no licenciamento ambiental nos assentamentos rurais no Rio Grande do Sul através do diagnóstico ambiental desses lugares. Atualmente, existem 154 assentamentos, com uma média de 1000 hectares cada um, somando 154 mil hectares. A pesquisa começou em janeiro deste ano e termina em outubro de 2006, podendo se estender até 2007. Segundo lei federal, qualquer empreendimento do porte de assentamento rural exige licenciamento, mas nenhum dos 154 assentamentos do Rio Grande do Sul está licenciado. Para reverter esta situação, o Ministério Público juntamente com o Incra providenciaram um termo de ajuste para licenciarem os assentamentos já implantados. Essas 154 áreas estão concentradas na metade sul do estado. A equipe de dez pessoas coordenada por Hasenack está elaborando o diagnóstico da vegetação, da fauna, do solo, dos tipos de atividades feitas nos assentamentos e de que forma as famílias estão usando o solo. A partir desta análise, o projeto vai sugerir formas mais adequadas de aproveitar a terra. A Fepam, que também participa da iniciativa, é responsável pela fiscalização. A fim de facilitar a execução dos trabalhos e a própria fiscalização, o Ministério Público, a Fepam e a equipe de pesquisadores da Ufrgs definiram em conjunto um termo de referência.

Futuramente, esses dados também estarão disponíveis na internet para a consulta pública. No site haverá todos os mapas referentes às áreas dos assentamentos, inclusive com indicações das Áreas de Preservação Permanente (APPs). Também será feita uma avaliação do sistema produtivo de cada assentamento. — O ideal é achar um equilíbrio, produzir de forma melhor para o meio ambiente. Através da análise será possível dar sugestões de melhores técnicas de manejo. Porém nada pode ser imposto, na verdade precisa haver um trabalho de educação ambiental para a partir daí esperar que os agricultores aceitem sugestões, e isso não envolve necessariamente altos investimentos. É uma questão de conscientização – afirma o coordenador do projeto.

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