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2005-07-16
Apesar da legalização da soja transgênica no Brasil, a próxima safra deve ser novamente semeada com a predominância de grãos não-certificados. Além do valor dos royalties que a Monsanto vai cobrar pelo uso da tecnologia Roundup Ready - R$ 0,88 -, considerado alto por especialistas no setor, devem colaborar para mais uma safra não-certificada a pouca quantia de sementes legais multiplicadas.

Para a safra 2005/2006, haverá 3 milhões de sacas de 40 quilos à disposição dos produtores brasileiros, o suficiente para plantar 2 milhões de hectares - ou 10% da área total cultivada com soja no país. Dos 500 multiplicadores de soja transgênica credenciados pela Monsanto, 80 ficam no Rio Grande do Sul, que deve dispor de 600 mil sacas de sementes. Esta quantidade poderia semear 400 mil hectares de terra, ou idênticos 10% da área plantada normalmente no Estado.

- Não tenho dúvidas de que o produtor vai usar basicamente sementes salvas da safra passada. Vai comprar muito pouca semente certificada para multiplicar - diz Narciso Barison Neto, presidente da Associação dos Produtores e Comerciantes de Sementes e Mudas do Estado (Apassul).

Assim como ele, José Francisco de Toledo, pesquisador da Embrapa Soja, de Londrina (PR), sustenta que R$ 0,88 é muito caro e que o agricultor vai preferir pagar a indenização pelo uso desautorizado da tecnologia à Monsanto na entrega da safra. A indenização, de 2% do valor de venda, sai mais em conta do que o royalty, argumenta Toledo.

Na opinião de Barison Neto, 85% da área de soja gaúcha será cultivada com grãos transgênicos no próximo ano (proporção semelhante à da última safra), enquanto 5% devem ficar reservados aos grãos convencionais e o restante, para o transgênico certificado.

- O custo de usar sementes certificadas será de R$ 50 por hectare, mas a tecnologia gera um lucro extra de R$ 200 por hectare para o produtor - rebate José Carlos Carramate, gerente de negócios de soja da Monsanto.

Mas o valor quase 100% superior ao da semente convencional não deve convencer o agricultor. O preço do quilo gira entre R$ 1 e R$ 1,30, enquanto a semente transgênica, com os royalties e a margem do sementeiro, deve custar de R$ 2,20 a R$ 2,30, calcula Barison Neto.

- O uso de apenas grãos próprios tem implicações sérias. Isso desestimula as empresas particulares a produzir novas cultivares e compromete a qualidade da safra. O Brasil só chegou a uma produtividade de 2,8 toneladas por hectare graças ao uso de tecnologia - alerta Toledo.

O quilo da semente certificada convencional custa entre R$ 1 e R$ 1,30. Com os royalties e a margem do multiplicador, a semente não vai sair por menos de R$ 2,20 por quilo, segundo Narciso Barison Neto, presidente da Apassul.

- Por considerar o royalty muito alto, o senador Osmar Dias (PDT-PR) fez nessa semana uma consulta à área jurídica do Senado, indagando sobre a possibilidade de o Brasil quebrar a patente da soja RR. Segundo o parlamentar, se isso é possível com remédios, também pode ser com produtos agrícolas. (ZH, 15/07)

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