Meio-ambiente fora do Pan
2005-07-15
O Rio não terá até os Jogos Pan-Americanos de 2007 a infra-estrutura ambiental e de transportes que foi prometida no projeto original. A afirmação é do prefeito Cesar Maia, que explicou que as obras de despoluição da Baía de Guanabara e das lagoas Rodrigo de Freitas e de Jacarepaguá não serão feitas até o Pan. Segundo ele, nem mesmo as mudanças nos transportes, com a duplicação da Auto-Estrada Lagoa-Barra e a construção de novas linhas de metrô vão acontecer. O prefeito minimiza a situação. Segundo ele, a atual infra-estrutura de transportes resolve os problemas:
- Tem uma grande concentração na Barra. O deslocamento das equipes pode ser feito por via fechada e o das pessoas por três vias. Além disso, os jogos vão acontecer nas férias escolares. Não há problema nenhum.
A construção do Transpan, que ligaria a Barra ao aeroporto por trilhos, foi descartada. Agora, a prefeitura estuda construir as mesmas vias, mas usando ônibus em vez de trens. Mais tarde bastaria revertê-las para implantá-los.
A esperança de Cesar Maia agora é a candidatura do Rio às Olimpíadas de 2016. Apesar de descartar a despoluição das lagoas e da baía até o 2007, o prefeito acredita que quando Lula visitar as obras do Pan, rapidamente irá autorizar a liberação de financiamentos para que obras estruturais comecem.
- Ele tem de liberar o fundo de financiamento japonês, para a recuperação das lagoas da Barra. Quanto ao Pan, não há problemas porque basta a dragagem da Lagoa Rodrigo de Freitas em dois pontos. Mas para as Olimpíadas, a despoluição na área do evento é fundamental porque os jogos têm a marca da responsabilidade ambiental. E até a candidatura em 2008 temos de estar com pelo menos 20% das obras prontas - defende.
Longo caminho para 2016
Pouco mais de um ano depois da desilusão de ver o Rio eliminado da candidatura para 2012, a cidade revive o sonho de sediar os Jogos Olímpicos em 2016. Na avaliação dos presidentes da Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa) e do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Mario Vásquez Raña e Carlos Arthur Nuzman, a escolha de Londres esta semana aumenta as chances cariocas para 2016. O prefeito Cesar Maia aposta no Pan 2007 como o grande impulso para que o Rio abocanhe as Olimpíadas daqui a 11 anos. Mas especialistas freiam o otimismo do alcaide com a afirmação de que ainda há muito a fazer para que a cidade esteja apta a sediar os jogos. Principalmente nas áreas de transporte e infra-estrutura hoteleira, quesitos que levaram o Comitê Olímpico Internacional (COI) a eliminar o Rio da última disputa.
- Ainda há muito trabalho pela frente e temos que pensar o transporte de forma sistêmica. Se não, é melhor esquecer os jogos de 2016 - alerta Fernando MacDowell, engenheiro de transportes e professor livre docente da UFRJ.
Entre as medidas a serem tomadas, MacDowell cita a criação da Linha 4 do metrô (ligando Copacabana à Barra) e outras duas linhas tranversais, que cortem a cidade a partir do Cebolão. A primeira seria o Transpan, sistema de metrô na superfície passando por Del Castilho e pela Ilha do Fundão, até chegar à Ilha do Governador. E a segunda seria a Linha 6 do metrô, que seria integrada ao trem, em Madureira, e à Linha 2, em Irajá, tendo como destino final também a Ilha.
Da Barra para o Recreio, onde está sendo construída a Vila Olímpica, a solução, para MacDowell é a implantação do aeromóvel, sistema com vagões semelhantes ao do metrô, só que movido a ar.
- São 11 anos até os jogos, mas é preciso que se comece a pensar agora no que deve ser feito e nos recursos necessários - opina MacDowell.
A rede hoteleira é outro fator que precisa de investimentos para viabilizar o sonho olímpico. Em maio do ano passado, este foi outro ponto considerado fraco na cidade pelo COI. O comitê exigia 31,5 mil quartos e o Rio só tinha, àquela época, 19.114 vagas. Hoje, são cerca de 28 mil quartos, de acordo com a TurisRio. A estimativa da secretaria não faz distinção, no entanto, da quantidade de quartos de três a cinco estrelas, uma exigência do COI na época. Para atrair a indústria hoteleira, uma lei já em vigor dá isenção de 40% no IPTU de imóveis que forem construídos para serem hotéis.
Cesar Maia, que no ano passado apontou a violência como a culpada pela eliminação carioca, minimiza as críticas. Segundo ele, o Rio perdeu a sede das Olimpíadas em 2012 porque ainda não havia uma infra-estrutura efetiva de esportes, o que existirá depois do Pan.
Já Nuzman, que acredita que dificilmente a Europa tenha outra oportunidade em 2016, aumentando as chances da América Latina, alerta:
- O mundo do esporte quer realizar os Jogos Olímpicos no Brasil. Resta saber se o Brasil quer sediar os Jogos Olímpicos ou entender a dimensão do que eles podem representar para o país. É um sonho possível, desde que todos tenham maturidade, equilíbrio, análise da dimensão dos Jogos. Existem dois orçamentos, um de organização das Olimpíadas e outro de infra-estrutura e de construção de instalações esportivas. Então não adianta insistir em colocar os dois orçamentos juntos, porque isso não existe no COI. (Jornal do Brasil, 10/07/2005)