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2005-07-15
O economista e diretor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, Ignacy Sachs, afirmou que o Brasil tem condições excepcionais para se destacar na civilização da biomassa. Em visita a Belo Horizonte nos dias 12 e 13 de julho, ele defendeu a busca por uma dependência menor dos combustíveis fósseis. - Estamos saindo da civilização do petróleo, o mundo está próximo do seu pico na capacidade de produção. Isso não significa que ele irá desaparecer de uma hora para outra, mas, que a produção caindo, o preço irá aumentar -, analisa diretor da Escola em Paris.

Ignacy Sachs participou de reuniões com representantes do governo do Estado e do Sebrae em Minas Gerais. O economista tem 77 anos e é um grande conhecedor dos problemas dos países do Terceiro Mundo e, particularmente, do Brasil. Os encontros visaram a troca de experiência com o economista, que morou no Brasil entre 1941 e 1954 e já publicou cerca de 60 livros sobre desenvolvimento sócio-econômico, inclusão social entre outros temas.

Climas e ecossistemas variados e terras cultiváveis em abundância são grandes vantagens do País na substituição pelos biocombustíveis como o álcool, o etanol e biodiesel. - Estar no trópico pode ser uma vantagem -, observa o economista para quem a alta do petróleo não é só conjuntural, é estrutural. Ele acredita que o Brasil tem todas as chances de sucesso, mas não pode esperar que isso caia do céu. - Tem que investir nos biocombustíveis. E há sinais claros de progresso da indústria do etanol, além de uma política, mesmo que tímida, a favor do biodiesel -, afirma.

Segundo Ignacy Sachs, o biodiesel representa uma oportunidade para os pequenos produtores já que o etanol tem grandes produtores instalados. - Acredito que haverá um novo ciclo de desenvolvimento no campo. Dentro da perspectiva que a produção de biocombustíveis representa, o perigo é só olhar a rentabilidade e o aspecto ambiental e deixar passar a essa oportunidade -, analisa.

Tratamento desigual
Inimigo declarado do neoliberalismo, o professor defende a presença do governo no mercado de forma regulatória. - O mercado é míope por natureza, tende a correr para as soluções fáceis e nem sempre elas são as melhores -, acredita. Para ele, boas políticas públicas devem dar tratamento desigual a desiguais, isto é, melhores condições a quem é mais fraco. - Caso contrário, teremos uma riqueza paga pelo aumento da pobreza-, explica. Sachs acredita que a pequena empresa precisa de um ambiente desburocratizado para competir, de um sistema fiscal preferencial, de um sistema previdenciário preferencial, de acesso ao conhecimento, ao crédito e ao mercado. - Esse é um dos importantes papéis do Sebrae. Ele veste a camisa das pequenas empresas para atuar em nome delas e promover parcerias. Joga no meio de campo porque tem maior possibilidade de influenciar os atores -, defende.

Para ele, a solução para vários dos problemas das pequenas empresas também passa pelo associativismo. - O empreendedorismo foi por muito tempo visto de maneira individual e incentivado assim. Mas, o empreendedorismo coletivo nos mostra que pode ser inclusive um respaldo para os problemas de cada empresa, observa.

Ignacy Sachs
Ignacy Sachs nasceu na Polônia, estudou no Brasil, fez doutorado na Índia e foi morar na França, em 1968, no auge do movimento estudantil. Hoje, Sachs naturalizou-se francês, mas visita o Brasil pelo menos três vezes por ano. Em Paris, dirige o Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais. É consultor do Sebrae em projetos de desenvolvimento territorial e empreendedorismo, que renderam a publicação de vários títulos em parceria com a instituição. (Página Rural, 14/07)

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