Empresa lança campanha de devolução de baterias automotivas
2005-07-15
Por Carlos Matsubara
A Moura lançou ontem (14/7) em Porto Alegre uma campanha de devolução de baterias automotivas usadas. A intenção da fabricante é informar a população através de folhetos explicativos que serão distribuídos em lojas e nos principais parques da cidade do perigo que elas podem representar ao meio ambiente.
A reciclagem do chumbo é economicamente atraente, por cortar cerca de 25% do consumo da energia gasta no beneficiamento do metal, mas no Brasil ainda é feita, muitas vezes, precariamente em oficinas de fundo de quintal.
— Nesses casos quem sofre os efeitos da contaminação do chumbo são os trabalhadores de reciclagem e vizinhos próximos-, destaca Carlos Cobas, gerente da empresa no Rio Grande do Sul.
A campanha será direcionada para todo o Estado e as baterias recolhidas serão encaminhadas para uma área especialmente construída e licenciada pela Fepam de acordo com a resolução 257 do Conama, ao lado da unidade de Porto Alegre, no bairro Floresta.
Apesar da obrigatoriedade do recebimento de baterias usadas por parte dos revendedores, a lei é pouco ou quase nada obedecida. Cobas explica que, através dessa iniciativa, esse panorama poderá ser modificado, sendo que o consumidor será o alvo principal, por meio da conscientização. — E o revendedor terá vantagens financeiras para receber esse material, já que elas valerão de 10% a 20% a mais na troca por baterias novas-, garante.
Perigos
A produção mundial de chumbo chega perto das 2,5 milhões de toneladas por ano e cerca de 75% disso é usado para fabricar baterias industrias, veiculares e de equipamentos portáteis. A inalação de poeira ou vapores contendo chumbo causa intoxicações agudas, mas o mais comum é o contato contínuo com chumbo em pequenas doses, que leva a problemas crônicos de saúde.
O chumbo é absorvido pela boca e pulmões, atingindo sobretudo os ossos e o sistema nervoso. Os sintomas de intoxicação crônica são dores de cabeça, fadiga e dores nos ossos e músculos, perda de memória e apetite, paralisia e convulsões, sendo que as crianças são mais suscetíveis a problemas neurológicos graves.
Descontentamento com órgãos ambientais
A direção da Moura deixa escapar um descontentamento com os órgãos ambientais no Brasil. A queixa diz respeito a proibição da importação de baterias usadas que, para o setor, valeria muito (resolução Conama 23/96).
A alegação é a de que essas peças poderiam ser utilizadas na fabricação de baterias novas, direcionadas sobretudo para exportação. — É uma decisão burra, que deixa de trazer divisas para o país, critica Paulo Sales, diretor- financeiro da empresa, cuja matriz fica em Pernambuco. Ele cita o México, importador de baterias usadas dos EUA, como um exemplo a ser seguido.
Empresa já levou chumbo grosso do Greenpeace
O Greenpeace, habitué denunciante de empresas, já mandou chumbo grosso pra cima da Moura. Segundo a ONG, a empresa teria, anos atrás, sido descoberta entre os importadores ilegais de baterias. Ao consultar as estatísticas de comércio exterior de janeiro a junho de 1997, teria descoberto que o Grupo Moura importou dos EUA 5 mil toneladas de sucata de chumbo de baterias, no valor de US$ 774.267,00.
Analisando os manifestos de carregamento dos navios no porto de Miami nos primeiros cinco meses de 1997, o Greenpeace teria constatado que 108 contêiners (com quase 3 mil toneladas de carga) rotulados como baterias com ácido (battery wet filled with acid UN2794) teriam sido enviadas para os portos de Suape e Recife, em Pernambuco. O código UN2794 é o código de envio de materiais perigosos aceito internacionalmente pelas Nações Unidas para baterias úmidas com ácido .