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2005-07-14
Um observatório para medir a redução da camada de ozônio na estratosfera começou a funcionar com êxito na semana passada no sul da Argentina. Trata-se do primeiro laboratório de seu tipo na América Latina e promete fornecer dados mais precisos do que os de um satélite em movimento. - A idéia era testar os equipamentos para que começassem a trabalhar regularmente a partir de 15 de agosto, mas já estamos obtendo os primeiros dados-, disse à IPS o argentino Eduardo Quel, diretor do Centro de Pesquisas em Laser e Aplicações e também responsável pelo projeto.

O observatório foi instalado no final de junho na Base Aérea Militar de Rio Gallegos, a 15 quilômetros da cidade de mesmo nome, capital da austral província de Santa Cruz. Na primavera do hemisfério Sul essa região, conhecida como Patagônia, fica especialmente exposta à radiação ultravioleta mais nociva que passa pelo chamado buraco da camada de ozônio. - Escolhemos Rio Gallegos porque depois de realizar um estudo com o serviço meteorológico concordamos que é o lugar onde as noites são mais claras, o que permite uma melhor observação -, disse Quel. A base fornece alojamento e assistência para a equipe de trabalho. O gás ozônio estratosférico encontra-se a uma distância entre 15 e 35 quilômetros da superfície terrestre e age como uma camada protetora da biosfera, ao filtrar os raios ultravioletas prejudiciais que afetam flora e fauna e produzem nos seres humanos maior propensão a doenças como câncer de pele e oculares, entre outras. Nos anos 70, a ciência começou a descobrir que essa camada diminuía em certas épocas do ano e sobre algumas regiões do planeta, especialmente no Pólo Sul, pela ação de gases como os clorofluorcarbonos (CFC), utilizados em aerossóis e equipamentos de refrigeração, que descompõem as moléculas do ozônio estratosférico.

As emissões prejudiciais foram regulamentadas em 1987 agraves do Protocolo de Montreal, que estabeleceu metas obrigatórias de eliminação e substâncias substitutivas às contaminantes. Mas somente em meados deste século se conseguirá controlar o fenômeno da redução, explicou à IPS o argentino Ruben Piacentini, membro do Instituto de Física da Universidade de Rosário. - A situação nesta zona do planeta é complexa porque, embora as medições mostrem hoje uma estabilização nos valores (de ozônio) dos últimos anos com possível tendência à recuperação, poderá haver um recrudescimento se não forem cumpridas as normas e se todos os gases nocivos não forem substituídos -, alertou. Ainda há dificuldades para encontrar um substituto eficaz do brometo de metilo, um pesticida muito tóxico que é outra das substâncias que esgotam a camada de ozônio cuja completa eliminação é estabelecida pelo Protocolo de Montreal até 2015. No sul da Argentina, uma zona muito exposta às radiações solares, a preocupação por este fenômeno está sempre latente. O projeto do observatório começou como um simples laboratório que funcionou desde 1998 nas instalações do centro dirigido por Quel, nos arredores de Buenos Aires. Como essa tentativa teve êxito, obteve-se ajuda da Agência de Cooperação Internacional do Japão para desenvolver um instrumento semelhante mas de maior magnitude e precisão passível de ser levado para o sul, onde a visibilidade é melhor.

O laboratório medirá diariamente a espessura da camada de ozônio até 2007. A partir desse ano, o programa não contará com financiamento japonês, mas poderia continuar com o apoio de organismos governamentais de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico. Aparentemente, a operação do laboratório é simples. Desde a base terrestre é projetado um raio laser que mede as partículas de ozônio. A informação é captada em terra através de espelhos conectados a cabos de fibra ótica que a trasladam sob determinados parâmetros para um computador, explicou o coordenador do projeto. Os dados recolhidos têm uma precisão maior do que os obtidos pelo satélite Aura, colocado em órbita pela agência espacial norte-americana (Nasa) em 2004 com o mesmo objetivo. De qualquer maneira, as informações conseguidas por ambos se completarão. A informação recolhida é repassada à Rede Internacional de Dados para Mudança Estratosférica que se nutre de medições do ozônio fornecidas por outras estações similares, que operam na Antártica e em países do hemisfério Norte, explicou Quel. Os instrumentos também fornecerão dados para entender melhor o efeito estufa, que captura o calor dos raios solares, e que se intensificou nos últimos 200 anos pela contaminação industrial. A estação também vai medir a composição da contaminação atmosférica, os aerossóis naturais (como sal, areia e outros) e as substâncias emitidas pela atividade humanas. (Eco Agência, 1307)

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