Impacto de cães (Canis familiaris) e gatos (Felis catus) errantes sobre a fauna silvestre em ambiente peri-urbano
2005-07-14
Resumo: Os objetivos deste estudo foram quantificar a população de cães (Canis familiaris) e gatos (Felis catus) errantes em ambiente peri-urbano representado pelo Campus “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo, em Piracicaba, SP; descrever e comparar qualitativa e quantitativamente a dieta das duas espécies e estimar sua pressão de predação sobre as espécies silvestres de mamíferos. Durante os meses de julho de 2002 e janeiro de 2003, foram realizadas observações visuais e coletadas amostras de fezes de cães e gatos ao longo de uma transeção linear. Foram amostrados 0,276 km², ou 3,2% da área de 860ha do Campus. As características físicas de cada indivíduo (espécie, raça, pelagem, sexo, tamanho e marcas naturais) foram registradas para o cálculo da abundância das duas espécies na área amostrada, assim como o número de encontros por dia e por ambientes (rural e suburbano). A dieta foi analisada através das amostras de fezes que foram esterilizadas, lavadas, secas e triadas, sendo seus componentes identificados com o auxílio de referências bibliográficas.
A importância de cada item foi expressa como porcentagem do número total de itens encontrados e como porcentagem de uma estimativa da biomassa consumida. A amplitude e sobreposição de nicho foram calculadas através dos índices de Levins e Pianka, respectivamente. O resultado da estimativa de abundância dos cães e gatos domésticos na área amostrada foi de 42 cães e 81 gatos. Cães e gatos são mais abundantes em ambiente suburbano que rural (T = 3,78, p < 0,001, N = 55; T = 8,38, p < 0,001, N = 55 respectivamente) e os gatos são mais abundantes que cães em ambiente suburbano (T = 6,76, p < 0,001, N = 55), porém não houve diferença significativa quanto à abundância de cães e gatos em ambiente rural (T = 0,82, p = 0,46, N = 55). Os resultados das análises das dietas indicam que os cães e gatos domésticos errantes são oportunistas de hábito generalista. Em 234 amostras de fezes foram detectadas 1212 ocorrências de 57 itens (68,4% de origem animal, 15,8% de origem vegetal e 15,8% formados por itens não alimentares). Considerando os itens de origem animal da dieta das duas espécies, invertebrados foram os mais consumidos, seguidos por mamíferos (cães: 57,05% e 25,15%; gatos: 63,24% e 20,51%, respectivamente). A amplitude de nicho (B) foi de 0,4463 para cães e 0,4892 para gatos. A sobreposição de nicho (O) foi próxima de completa (0,97108). O consumo de mamíferos por cães foi estimado entre 16,76 e 25,42 kg/ind/ano e por os gatos foi entre 2,01 e 2,9 kg/ind/ano, o que pode ser a causa das baixas densidades populacionais de pequenos mamíferos silvestres na área de estudo.
Instituição: Universidade de São Paulo (USP).
Autor: Claudia Bueno de Campos.
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