Governador da Bahia volta a criticar transposição do São Francisco
2005-07-11
Um discurso fervoroso do governador Paulo Souto, contra a transposição das águas do Rio São Francisco, marcou o Café da Manhã com Empresários, na sede da Associação Comercial da Bahia, na úlltima quinta-feira (07/07). Ressaltando a todo momento a necessidade da revitalização ambiental do Velho Chico e os prejuízos para o estado com a transposição, Souto afirmou que nem mesmo a crise política atual deve conter o projeto, que só na primeira etapa vai exigir recursos da ordem de R$4,5 bilhões. - A essa altura dos acontecimentos, só vejo duas formas para o projeto não ir à frente: com a intervenção do poder Judiciário ou através do Congresso, com a não-inclusão de recursos para o projeto no orçamento da União, declarou.
Souto destacou que, pelo projeto federal, a Bahia está isolada do ponto de vista dos projetos estruturantes, que envolvem a questão logística, como portos, rodovias e ferrovias. - Há uma grande injustiça com a Bahia em relação à alocação de investimentos. O projeto isola a Bahia e prioriza o Ceará e o Rio Grande do Norte, estados que dispõem respectivamente de quatro e duas vezes mais a quantidade de água de que necessitam, sem falar que quase 80% da água da transposição é destinada à irrigação de Pernambuco e Ceará - comentou ele, lembrando que quase 94% das vazões do São Francisco são geradas na Bahia e em Minas Gerais.
O governador considerou também que a transposição do São Francisco não resolve o problema da seca no Nordeste nem a questão da população dispersa do São Francisco. Ele citou ainda o problema da vazão insuficiente, já que o Rio São Francisco possui atualmente apenas 25 metros cúbicos por segundo disponíveis para novos usos (335 m3/seg já se encontram outorgados) e o projeto propõe a retirada de 26,4 m3/seg. - Se o projeto do governo federal tem a intenção de desviar 26,4 m3/seg, além de se instalar uma situação de absoluta incapacidade de utilização de água para novos usos, ainda teremos que inventar. Qualquer água que se tirar da Bahia com o projeto vai impor restrições ao desenvolvimento futuro do estado, observou. - O projeto deve ser paralisado e rediscutido, priorizando a revitalização, a utilização de fontes alternativas de água e a redistribuição da água.
O secretário do Meio Ambiente, Jorge Khoury, lembrou do risco do projeto de transposição se tornar mais uma obra inacabada, a exemplo das rodovias Transamazônica e Norte-Sul. - Banco Mundial está presente em todos os projetos hídricos importantes do país e se afastou completamente da possibilidade de financiar esse projeto de transposição, da forma como está sendo concebido, destacou. (Correio da Bahia, 07/07)