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2005-07-11
Por Carlos Matsubara

O Biomphalaria glabrata, nome científico de um pequenino caramujo de no máximo quatro centímetros vem dando trabalho a pesquisadores gaúchos. Introduzido no Estado como espécie exótica, ele é ótimo hospedeiro do verme Schistosoma manson, responsável por provocar a esquistossomose em humanos.

O primeiro caso de infecção que se tem notícia foi em 1997. Um morador de Esteio, região metropolitana de Porto Alegre foi contaminado pescando no rio dos Sinos. Um ano depois, descobriu-se que o causador era o tal verme. De lá para cá já foram contabilizados 17 casos. Todos na mesma região conhecida por bons pontos de pescaria.

A doença é de difícil reconhecimento, já que os sintomas são bastante parecidos com os de outras tantas moléstias. Na fase aguda, pode apresentar coceiras e dermatites, febre, apatia, tosse, diarréia, enjôos, vômitos e emagrecimento. Já na fase crônica, geralmente assintomática, aparecem as diarréias alternadas com períodos de prisão de ventre (obstipação). Pode ainda evoluir para um quadro mais grave com aumento do fígado (hepatomegalia) e cirrose, aumento do baço (esplenomegalia), hemorragias provocadas por rompimento de veias do esôfago, e ascite conhecida popularmente como barriga dágua.

O doutor em Medicina Tropical da Pontifícia Universidade Católica (PUC), Carlos Teixeira, explica que esta espécia de caramujo é bastante comum de São Paulo para cima, mas totalmente invasora no Rio Grande do Sul.

O tratamento da doença pode ser feito com medicamentos específicos que se mostram eficazes na cura completa da doença na maioria dos casos. No entanto, educação sanitária, saneamento básico, controle dos caramujos e informação sobre o modo de transmissão da doença são medidas absolutamente fundamentais para a prevenção.

A transmissão do parasita se dá pela liberação de seus ovos através das fezes do homem infectado. Em contato com a água, os ovos eclodem e libertam larvas que morrem se não encontrarem os caramujos para se alojar. — Se os encontram, porém, dão continuidade ao ciclo e liberam novas larvas que infectam as águas e posteriormente os homens penetrando em sua pele ou mucosas-, explica o professor.

A esquistossomose chegou às Américas Central e do Sul provavelmente com os escravos africanos e ainda hoje atinge vários estados brasileiros, principalmente os do Nordeste. No Rio Grande do Sul, no entanto, não há uma resposta definitiva de como a espécie tenha chegado. Especulações dão conta de que tenham sido caminhoneiros que trabalham paras as dezenas de indústrias do município. É comum uma verdadeira horda deles, mais moradores e outros trabalhadores aproveitarem suas horas de folga para pescar nas piscosas águas do rio dos Sinos. Eles usariam o molusco trazido de outras regiões como iscas e daí a proliferação. Outra probabilidade é que o verme tenha chegado via organismo humano contaminado.

Outra possibilidade aventada pelo doutor em Recursos Hídricos, Régis Lahm, do laboratório de Geoprocessamento da PUC, é que o aquecimento global tenha influenciado a proliferação do verme que é hermafrodita. Como eles não vivem bem em ambientes mais frios, com a elevação gradual da temperatura das águas, acabaram encontrando um bom ambiente para se multiplicarem.

Lahm vem monitorando a migração da espécie. A pesquisa em fase inicial tenta localizar os focos no rio dos Sinos até o Lago Guaíba. A localização é feita a partir da simulação da modelagem e circulação das águas dos rios, sendo os dados captados através de sensoriamento remoto e geoprocessamento.

Com as constantes cheias e vazões do rio o caramujo pode atingir outras bacias chegando até o Delta do Jacuí, ponto onde é concentrada a pesquisa de Lahm e onde desembocam cinco rios diferentes. O hospedeiro pode também ser levado para outros rios levado por aves migratórias e pelos peixes.

Um dos objetivos do trabalho da universidade é apontar às autoridades sanitárias os locais de contaminação. — Com o mapeamento concluído será possível direcionar ações específicas no combate ao verme-, dizem.

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