Conservacionistas e setor produtivo se unem para avaliação ecológica no MT
2005-07-08
O norte do Mato Grosso está sendo
palco de uma parceria inédita entre conservacionistas
e produtores rurais. Trata-se da Reserva Biológica das
Nascentes da Serra do Cachimbo, criada no dia 20 de
maio, e que vai passar pelo processo de avaliação
ecológica para subsidiar o planejamento da área. Os
estudos serão realizados pelo Instituto Centro de Vida
(ICV), com o apoio da Associação dos Produtores do
Vale do XV, num processo de construção de consenso
raro quando o assunto é conservação.
— Essa experiência nos mostra que uma abordagem
diferente da questão da conservação é possível -
aponta Laurent Micol, coordenador-adjunto do ICV, cuja
opinião é compartilhada pelo presidente da Associação,
Marcelo de Castro Souza. — Não estamos esperando que os
estudos possam mudar a categoria da unidade, mas
achamos esses estudos importantes, principalmente
porque incluem a parte humana - considera.
Marcelo de Castro conta que desde que as cerca de 150
famílias de produtores rurais se estabeleceram na área
no final dos anos de 1980, deixaram as nascentes
conservadas. — Há uns cinco anos atrás começou uma
pressão de imigrantes para ocupar essa área e nós
pensamos em fazer um mosaico de unidades de
conservação para manter as nascentes preservadas -
conta o líder dos produtores. Para isso, eles
procuraram a Secretaria Executiva de Ciência,
Tecnologia e Meio Ambiente do Pará (Sectan) e
começaram a fazer um estudo para criação desse
mosaico. — O estudo foi feito, com os técnicos da
Sectam, mas as reservas não saíram - relata.
Foi com essa proposta nas mãos que ocorreu o encontro
com o ICV, que vem desenvolvendo estudos preliminares
de conservação no Território Portal da Amazônia.
Gustavo Vasconcellos Irgang, coordenador de Ecologia e
Conservação do ICV, explica que a região é chave na
construção do corredor de conservação da Amazônia
Meridional, que se estende desde a região do Araguaia
até divisa do Acre com a Bolívia. Além disso as
nascentes da Serra do Cachimbo, uma área de mais de
300 mil hectares com centenas de nascentes e
cachoeiras, está surpreendentemente preservada.
Segundo os estudos já elaborados pelo laboratório de
informações geográficas do ICV, apenas 6% da área onde
foi criada a reserva biológica possui pastagens. Se
analisada a extensão, a área é grande, com cerca de 13
mil hectares, mas observando o tempo de ocupação o
dado volta a sinalizar um alto grau de preservação,
considerando o impacto que poderia ter nos 20 anos de
ocupação humana.
— Já é possível perceber preliminarmente que a
comunidade local foi responsável pela manutenção desta
biodiversidade das nascentes até hoje - explica
Irgang, que coordena os estudos de ecologia da
reserva. — O respeito pela história da comunidade é
prioritário para nós. Nosso objetivo é trabalhar com
conservação respeitando a história de vida dessas
pessoas. Vamos coletar o maior número possível de
informações cientificamente qualificadas e essas
informações estarão à disposição da comunidade -
completa. É essa demonstração de respeito que
convenceu os produtores rurais a apoiarem os estudos
de uma organização não-governamental na área. — O ICV
nos mostrou que tem esse diferencial, que não trabalha
apenas com conservação, mas também com as pessoas -
afirma Marcelo de Castro.
A avaliação ecológica da Reserva das Nascentes da
Serra do Cachimbo é um projeto em parceria com o WWF e
tem participação da Universidade do Estado de Mato
Grosso (Unemat). A equipe de cerca de 20 especialistas
que vai a campo analisar aspectos sócio-econômicos,
geográficos, de flora e fauna das nascentes conta com
professores e estudantes do campus de Alta Floresta.
Para o coordenador-adjunto do ICV, Laurent Micol,
essas duas outras parcerias são fundamentais para a
realização do trabalho. — A participação da Unemat no
trabalho tem um peso significativo para nós. Além
disso, o projeto como um todo é uma aposta corajosa do
WWF na atuação de uma instituição com raiz local.
(Fonte: Agência de Notícias Ambientais Estação Vida)