Trabalho escravo em usina de etanol do Mato Grosso
2005-07-07
Em junho, ocorreu a maior operação de libertação de trabalhadores escravos na história do país. Mais de 1.200 pessoas foram encontradas em uma usina de álcool (a Destilaria Gameleira, no município de Confresa, Mato Grosso), por um grupo móvel de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego em situação extremamente degradante, segundo o coordenador da operação.
De acordo com o MTE, a situação dos funcionários da destilaria continha as características da escravidão contemporânea, do aliciamento ao endividamento e à impossibilidade de deixar o local. Os trabalhadores teriam sido levados de Pernambuco, Maranhão e Alagoas, iludidos pelas falsas promessas de salários e boas condições de serviço.
Ninguém recebia salário, e todos eram obrigados a comprar tudo da cantina da empresa, com preços acima do mercado. Os gastos eram anotados para serem descontados do pagamento final, sempre menor do que o prometido. As condições de saneamento e higiene eram péssimas, a água e a comida eram de má qualidade, os alojamentos estavam superlotados e existem denúncias de violência física contra os peões.
A Gameleira, que produz 30 milhões de litros de álcool por ano, já havia sido flagrada outras três vezes (em 1997, em 2001 e em 2003) utilizando escravos. Apesar disso, em maio passado, obteve uma liminar que retira seu nome da lista suja do trabalho escravo, o cadastro oficial que reúne as empresas e pessoas físicas autuadas. A liminar permite que a Gameleira obtenha empréstimos em instituições públicas de crédito, como o Banco do Brasil.
Mas, desta vez, grandes distribuidoras de combustível do país, como a Ipiranga e a Petrobrás, signatárias do recente Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, deram uma amostra de responsabilidade social ao deixarem de comprar o álcool da Gameleira. O Instituto Akatu apoiou o Pacto Nacional, liderado, entre outras entidades, pelo Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, nosso parceiro.
Para ajudar a acabar com esta situação vergonhosa, o consumidor deve estar atento a notícias como esta e tomar uma atitude positiva: ao abastecer seu carro, prefira os postos de empresas que não compram álcool de usinas que escravizam seus trabalhadores. O Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo divulga a lista das empresas que seguem com a prática. A mesma informação pode ser obtida junto à Organização Internacional do Trabalho. (Instituto Akatu, 06/07)