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2005-07-07
David King, Conselheiro Científico do governo britânico há cinco anos, tem repetido insistentemente onde quer que vá: as mudanças climáticas são o maior problema que as pessoas do planeta enfrentam hoje, maior até do que o terrorismo.

Em São Paulo, onde participou do lançamento da exposição NorthSouthEastWest, promovida pelo British Council, não foi diferente. Reiterando que as mudanças climáticas são o maior desafio para todos os países do mundo, King falou sobre o programa ZeroCarbonCity (cidades com emissão de carbono zero), do qual faz parte a exposição. O programa ZeroCarbonCity é uma campanha mundial do British Council para conscientizar a população sobre a importância do problema da mudança climática e a necessidade de as cidades enfrentarem esse desafio. O objetivo é debater e disseminar tecnologias que permitam às grandes cidades usar fontes de energia que emitam cada vez menos gás carbônico (CO2), um dos principais gases responsáveis pelo aumento do efeito estufa e o conseqüente aquecimento global. - A idéia é espalhar o ZeroCarbonCity pelo mundo, pois é preciso enfatizar que esse tema tem importância fundamental - explicou King.

O Brasil, segundo King, tem um lugar de destaque na produção de energia sem emissão de gás carbônico. - O Brasil pode mostrar o caminho adiante com sua produção de combustível a partir de cana-de-açúcar. E pode chegar não à cidade carbono zero, mas à cidade ‘carbono negativo - afirmou King. Como parte da divulgação desse programa, a exposição NorthSouthEastWest percorrerá vários países do mundo mostrando não só alguns problemas causados pelas mudanças climáticas, mas também soluções de produção de energia livres da emissão de gás carbônico.

As únicas soluções para lidar com as mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global, segundo King, são a mitigação e a adaptação. Ou seja, é preciso reduzir a emissão de CO2 em 60% até 2050. - É muito além do que exige o Protocolo de Kyoto, porque a redução de emissões previstas no protocolo não é suficientes - avalia King. Além disso, os países terão de se adaptar não apenas às mudanças que virão, mas às que já estão acontecendo - só que ainda vistas como eventos isolados, não como conseqüência do aquecimento global.

O extremo calor do verão europeu de 2003, por exemplo, que causou a morte de 30 mil pessoas e trouxe custos diretos de US$ 13,5 bilhões, não foi associado ao fenômeno. Entretanto, avaliando-se a temperatura média na Europa ao longo do século, percebe-se que os picos de temperatura de 50 anos atrás equivalem às médias de hoje. Ou seja, provavelmente daqui a meio século os europeus terão de se acostumar a verões constantemente tórridos como o de 2003. Outra mudança perceptível acontece no regime de chuvas da Grã-Bretanha, agora muito semelhantes às tempestades tropicais. - A garoa inglesa é coisa do passado - disse King, lembrando as inundações de 2004, que trouxeram prejuízos de quase US$ 90 milhões àquele país.

Embora haja cada vez mais consenso na comunidade científica sobre a gravidade desses problemas, David King vê uma grande inércia no sistema político para lidar com essa questão. Da próxima reunião do G8, por exemplo, King não espera muito: o mais importante do processo é que os líderes do G8 estarão discutindo essas questões. As reuniões do G8, segundo ele, não são lugar para deliberações. - Não queremos dizer aos outros países o que eles deveriam fazer, mas tentar discutir as soluções para este enorme problema - disse King. Decisões mesmo ele espera da próxima Conferência das Partes da Convenção do Clima, que será realizada em novembro, em Montreal (Canadá). - Eu gostaria de ver um comunicado sobre quais questões deverão ser enfrentadas, tanto por países desenvolvidos como por países em desenvolvimento - afirmou.

Para David King, a questão da mudança climática só será devidamente enfrentada quando as pessoas perceberem o quanto serão afetadas pelas conseqüências, como as inundações provocadas pelo aumento do nível dos oceanos. - Precisamos mostrar às pessoas que vivem em áreas costeiras que seus netos terão de se mudar dali - conta. - Se conseguirmos levar essas mensagens às pessoas, poderemos fazer os políticos agirem, pois é a pressão do povo que os move - acredita. (Eco Agência, 05/07)

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