Palma é a melhor fonte para biodiesel
2005-07-06
A soja não é a cultura mais indicada para a produção
de biodiesel, mas poderá servir como matéria-prima em
um primeiro momento. A avaliação é do coordenador do
Projeto Biodiesel Brasil, Miguel Dabdoub. Professor da
USP, Dabdoub trabalha no Laboratório de
Desenvolvimento de Tecnologias Limpas (Ladetel), que
desenvolve, em parceria com a indústria automotiva,
protótipos de caminhões e máquinas agrícolas movidas a
biodiesel.
O biodiesel é feito a partir de uma reação química
entre um álcool e um óleo vegetal. Dabdoud explica que
o produto foi lançado na Europa como forma de
subsidiar a produção de canola, e ganhou maior
importância por causa do Protocolo de Kyoto. Na
Europa, a produção é feita com o álcool metanol,
derivado da indústria petroquímica. - Mas no Brasil é
possível fazer o combustível a partir do etanol,
graças à nossa grande produção de cana - diz.
Segundo Dabdoub, o Brasil tem grande potencial como
produtor de biodiesel, graças à grande área de terras
agricultáveis. Contudo, ele não acredita que a soja,
principal produto agrícola nacional, seja competitiva
como matéria-prima para a produção do combustível. - A
soja gera uma produção de óleo por hectare que é muito
baixa, se comparada com a de outras plantas, como as
palmeiras - explica. Com 5 milhões de hectares de
soja, é possível responder por 5% do consumo de diesel
do Brasil. Com a mesma área de dendê, responde-se por
100% do consumo - compara.
Atualmente, o diesel é a principal fonte de energia no
Brasil. O petróleo responde por 43% da produção de
energia do Brasil, sendo seguido pela biomassa, com
27%, e pela energia hidrelétrica, com 14%. - Como
dentro do item petróleo o diesel é majoritário, se for
possível conseguir um substituto para ele a matriz
brasileira vai ficar muito mais limpa.
Segundo o coordenador, apesar do grande potencial do
biodiesel, o governo precisará atuar para tornar
viável a iniciativa. - O álcool hoje em dia é
competitivo, mas quando foi lançado precisou ter uma
série de incentivos para adaptação da tecnologia e
porque seu custo era elevado - diz Dabdoub. - No caso
do biodiesel, o custo seria muito menor do que o do
álcool, mas também é necessária uma política de apoio.
Para o professor, o Brasil precisa discutir melhor uma
política para o setor. Ele sugere que a produção de
dendê será uma saída para o biodiesel, mas critica a
atual legislação brasileira. - Como não se pode
considerar projetos com a palmeira do dendê como
seendo projetos de reflorestamento, perde-se uma boa
oportunidade até mesmo de se obter créditos de carbono
por florestamento.
Dabdoub também critica o foco na produção de mamona
como fonte do biodiesel. - Os primeiros estudos que
fizemos mostram que o diesel resultante da mamona é
muito viscoso e tem problemas de densidade, sendo
muito menos competitivo do que o biodiesel de outras
origens - explica. - Acho louvável buscar iniciativas
para pequenos agricultores do Nordeste, mas é preciso
tomar cuidado para que o resultado final não o elimine
de vez da atividade. (Página Rural, 05/07)