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2005-07-05
A nata branca que manchou parte da represa Billings, no Parque Los Angeles, em São Bernardo, é resultado do acúmulo de alga morta. A constatação é da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental). A planta, da espécie Micro cystis, se prolifera em áreas onde há grande incidência de despejo de esgoto. As construções irregulares do bairro não dispõem de canalização. Nesta sexta, técnicos da Secretaria do Meio Ambiente da cidade também estiveram no local. Mesmo diante da constatação da Cetesb, a Delegacia do Meio Ambiente instaurou inquérito para investigar se o aumento da crosta de impurezas acumulado na superfície das águas foi provocado pelo despejo de produtos químicos na represa. Uma amostra da água foi retirada pela Polícia Científica e será encaminhada ao Instituto de Criminalística de São Paulo.

Nesta sexta, o engenheiro da Cetesb Heitor Maruno analisou toda a margem da represa no Parque Los Angeles e mediu o PH da água. — Constatamos que está eutrofizada (com grande incidência de algas mortas) e é a planta que exala o odor reclamado pelos moradores – analisa. A espuma branca, segundo ele, se desenvolve nos trechos mais tomados pelas algas, mas se dilui com facilidade. O engenheiro não soube dizer se a incidência da planta pode causar danos à saúde dos moradores.

Desde o surgimento da nata, no início da semana, alguns moradores sentiram mal-estar, vomitaram e tiveram diarréia. Pelo menos uma criança desenvolveu manchas avermelhadas pelo corpo depois de ter tido contado com a água, que fica frente de sua casa.

Na última sexta técnicos da Polícia Científica iniciaram uma avaliação do entorno da represa para rastrear as indústrias instaladas no bairro. O objetivo do mapeamento é verificar se o funcionamento da estação de tratamento de alguma delas está suspenso. Os peritos não anteciparam qualquer avaliação sobre a origem da mancha, mas disseram acreditar que o surgimento não esteja relacionado exclusivamente ao volume de esgoto clandestino despejado na represa, com base na textura e odor da borra.

Edson Capitanio, chefe de controle ambiental da Prefeitura de São Bernardo, afirmou que além da Cetesb, a Sabesp (Serviço de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), o Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) e o Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica) também foram acionados para analisar a mancha branca. Capitanio explicou que a Prefeitura não tem como fazer a análise química da amostra e que a Defesa Civil está incumbida de verificar se a nata branca põe a população local em risco de contaminação.

Também na sexta, Capitanio e a chefe da seção de educação ambiental da cidade, Vera Rotondo, procuraram líderes de movimentos do Parque Los Angeles com a intenção de discutir ações ambientais no bairro. — Sabemos que é uma área na qual a população não está consciente da gravidade que significa sujar a represa. Temos trabalhos específicos no local, mas vamos ter de discutir outras ações que devem ser colocadas em prática.

O Parque Los Angeles tem ocupações irregulares. Vera Rotondo, da Prefeitura, disse que se a poluição naquele trecho estiver piorando, há a possibilidade de remoção das famílias do bairro. — A represa está cada dia mais poluída e os projetos que visam melhorias ambientais ainda estão em discussão - disse Vera. Denúncia racha moradores
A denúncia sobre o surgimento da mancha esbranquiçada às margens da represa provocou um racha entre os moradores do bairro. Enquanto o grupo de ativistas ambientais propõe a urgência em acabar com o esgoto a céu aberto, os representantes da Associação dos Moradores consideram absurdo relacionar o aparecimento da crosta à emissão de esgoto clandestino na represa por parte dos moradores da rua principal, na margem da Billings. Nesta sexta, momentos antes da reunião dos moradores com representantes da Secretaria do Meio Ambiente da cidade, Ronaldo Cândido Gomes, da associação, e Rosinete Oliveira dos Santos, ativista ambiental, agrediram-se verbalmente, ao defender suas opiniões. Gomes criticou o fato de Rosinete ter denunciado o surgimento da mancha. — Não podemos crucificar as pessoas só porque não dispõem de recursos para construir fossas. A limpeza da represa não é nossa responsabilidade. Cabe à Prefeitura - argumentou. Rosinete defendeu a posição de que é questão de educação não jogar o esgoto na Billings. — Ocuparam as áreas e agora cobram apenas da administração. Nós também temos uma grande parcela de responsabilidade. (Diário do Grande ABC, 02/07/2005)

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