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2005-07-05
A campanha publicitária das grandes empresas poluidoras - Companhias Vale do Rio Doce (CVRD) e Siderúrgica de Tubarão (CST - Arcelor), e Aracruz Celulose - está sendo intensificada. As empresas, que lançam toneladas de poluentes no meio ambiente e sobre as pessoas em todo o Estado (do Espírito Santo), buscam a simpatia da população para seus projetos de expansão, alguns deles em fase de licenciamento ambiental.

As empresas veiculam suas campanhas de publicidade principalmente pela televisão, mas também nos jornais são publicados cadernos sobre os impactos que consideram positivos. As contradições são claras: os poluentes lançados no ar pela CST e CVRD, por exemplo, são visíveis em muitos pontos da Grande Vitória. São particularmente agressivos à visão na região norte de Vitória, de Vila Velha e da Serra.

Além de visível, a poluição afeta a maioria da população na Grande Vitória. São 264 toneladas/dia (96.360 toneladas/ano) de poluentes, só no ar, que causam as mais diferentes doenças na população. Entre elas, vários tipos de câncer, doenças alérgicas e respiratórias. Entre os poluentes, micropartículas de ferro, as PM2, que vão contaminar os pulmões, e derivados do enxofre que, em contato com a água, produz ácido sulfúrico, que pode lesar a pele e também ser inalado.

O ambientalista Luiz Cláudio Ribeiro, vice-presidente da Associação Amigos do Piraquê-Açu/Santa Cruz (Amip), considera que a propaganda é a única forma como estas empresas se comunicam com a sociedade. As empresas não conseguiram formar interlocutores nem entre seus empregados, nem na sociedade, diz.

Luiz Cláudio Ribeiro afirma que as empresas mostram corpo sem cara e que esta forma de comunicar não é condizente com a magnitude dos projetos, que impactam a vida das pessoas. Na realidade, no entendimento do ambientalista, as empresas têm monopólio tão grande na estrutura do Estado que se impõem, não precisam justificar nada.

O ambientalista considera que a propaganda visa mais a constranger o debate técnico, que deve se dar no Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema). E isto não ocorre, pois em geral o governador Paulo Hartung já deu seu aval ao projeto, já garantiu sua implantação no Estado. Então, o projeto passa sem discussão no Conselho.

Luiz Cláudio Ribeiro destaca que de qualquer modo a propaganda ajuda a população a pensar só nos aspectos positivos dos projetos, como os empregos que serão criados. Mas os projetos geram, além do aumento das emissões de poluentes, problemas urbanos, entre outros. — As empresas vendem um belo quadro, mas irreal. Desviam a atenção da população de participar, de conhecer os problemas que os projetos criam, e cobrar solução para eles, diz o ambientalista.

Ele diz que as empresas têm de dizer com clareza o que querem fazer no Espírito Santo. O que querem em termos territoriais nos próximos 40 anos. — O cidadão tem direito de saber como será seu futuro e o da região onde vive. Não pode se surpreender com investimentos de US$ 800 milhões. O governador Paulo Hartung tem papel fundamental na democratização da política de meio ambiente, no licenciamento ambiental. É inconcebível a defesa incondicional que faz do bloco monolítico dos grandes projetos-.

Luiz Carlos Ribeiro assinala que particularmente não acredita que caiba mais uma usina da CVRD no Planalto de Carapina. A empresa quer instalar sua 8ª usina de pelotização, que terá capacidade de produzir 7 milhões de toneladas/ano de pelotas de ferro, elevando a capacidade da empresa, hoje de 25 milhões de toneladas de pelotas por ano, no seu complexo de Tubarão.

O empreendimento aumentará a poluição da Grande Vitória, região que recebe 264 toneladas por dia de poluentes, somente da CVRD e da CST. O aumento da poluição já está previsto com a 3ª usina da CST, que já tem licença ambiental e com o aumento da produção da Belgo - Arcelor. A Samarco conseguiu licença para sua 3ª usina, e a Aracruz Celulose anuncia que vai ampliar a produção de suas fábricas, através da modernização.

A CVRD não se furta de informar na publicidade que teve lucro líquido de R$ 6,460 bilhões em 2004; receita bruta de R$ 29,020 bilhões; além de exportações líquidas de R$ 4,618 bilhões. E mais: que em 2004, a Vale gerou 17.250 empregos no Estado do Espírito Santo, considerando empregados próprios e de empresas controladas e terceirizadas.

Vende imagem positiva na área ambiental e social. E que, em três anos, a CVRD passou da sétima posição para a de terceira maior empresa de mineração e metais do mundo; que investiu R$ 6,4 bilhões de 2001 e 2004; e, que investirá US$ 3,3 bilhões, em 2005, entre outras informações.

Os ambientalistas têm desconfiança em relação aos números apurados na Rede Automática de Monitoramento da Qualidade do Ar da Grande Vitória (que, entre outros, é mal posicionada e não conta com estações em áreas críticas, como o Centro de Vitória) e, como a direção da Associação Capixaba de Proteção ao Meio Ambiente (Acapema), estão propondo a realização de auditoria independente da qualidade do ar na região. Dizem que com os novos empreendimentos, o ar da Grande Vitória poderá ficar irrespirável em cinco anos. (Século Diário, 4/7)

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