Dilma Roussef pode evitar banimento do amianto
2005-07-05
A posse de Dilma Roussef como ministra da Casa Civil deixou em alerta
aqueles que lutam para abolir o amianto no Brasil. Comprovadamente
cancerígeno, o mineral é utilizado principalmente em telhas e no setor de
autopeças no país. A substituta de José Dirceu foi contra o banimento do
amianto enquanto respondia pelo ministério de Minas e Energia. Agora tem a
responsabilidade de tomar a decisão política a ser submetida à apreciação
final do presidente da República.
Para a auditora fiscal do Ministério do Trabalho, Fernanda Gianassi, uma das
principais responsáveis pela criação da Abrea (Associação Brasileira dos
Expostos ao Amianto), a questão é preocupante. — Corroboramos as
preocupações com a indicação de Dilma Roussef para Casa Civil a quem caberá
a decisão final pelo banimento ou não do amianto em nosso país. Pela nota
técnica que seu ministério elaborou para subsidiar o relatório da
discórdia que está sob apreciação desde março de 2005, e que foi
engavetado pelo ex-ministro José Dirceu, acredito que teremos também
aqui posições retrógradas e na contra-mão da tendência mundial de banimento
da matéria-prima cancerígena – analisa Gianassi.
Para subsidiar sua decisão, a ministra tem em mãos um relatório produzido
por um grupo de trabalho, reunindo oito ministérios, que foi levado em abril
à Casa Civil e tem 1.399 páginas. Além do MME, o ministério do
Desenvolvimento também ficou contra a maioria (Trabalho, Previdência, Saúde,
Meio Ambiente, Relações Exteriores e a própria Casa Civil).
— O princípio básico defendido no âmbito do MME é maximizar a produção dos
bens minerais, inclusive a crisotila (amianto), tendo como referência o uso
seguro dos minerais e metais aproveitados pela sociedade, em todo o ciclo
produtivo. A questão chave para nós se refere à não trocar a defesa da saúde
dos trabalhadores e da população por razões de ordem econômica, mas também
não aceitar argumentos simplificados que confundem o banimento de produtos
químicos artificiais com o necessário cuidado com a manipulação de
substâncias minerais naturais as quais, não por acaso, estão sofrendo a
concorrência de materiais sintéticos produzidos por grandes grupos
econômicos – diz a portaria interministerial nº 08/2004, de
19/04/2004.
Enquanto sindicatos de trabalhadores de todo o mundo e vários governos
lançaram no último dia 8 de junho, em Genebra, uma campanha internacional
para abolir o uso e comercialização do amianto, o produto continua crescendo
em importância na pauta de exportações do país.
Segundo informações do Ministério do
Desenvolvimento, o país exportou, de janeiro a setembro de 2004, cerca de
US$ 22 milhões em produtos que vão desde amianto em fibras não trabalhadas
até outras formas de amianto.
O amianto tem 3 mil usos diferentes mas pode ser substituído pelo PVA em sua
principal função: a construção de telhas e chapas. O problema é que o Brasil
é o terceiro maior produtor mundial, com 11% do mercado e a proibição teria,
segundo o setor, repercussões econômicas sérias para certas regiões,
principalmente o Estado de Goiás.
O Brasil tem aproximadamente 50 mil trabalhadores em atividade ou que já
passaram por indústrias que usam a fibra de amianto, de acordo com
estimativas da Fundação Oswaldo Cruz. O secretário geral da CIOSL
(Confederação Internacional das Organizações Sindicais Livres), Guy Ryder,
informa que o amianto provoca mais de cem mil vítimas fatais por ano em todo
o mundo e sofrimentos em milhões de pessoas.
— A amiantose é um risco para todos, não somente para os trabalhadores -
afirmou, desde as crianças nas escolas até os jovens e as pessoas de idade
que transitam por edifícios públicos ou privados onde há amianto, e para
comunidades inteiras onde há amianto como agente contaminante – disse Ryder.
A Agência Internacional de Investigação sobre o Câncer, pertencente à OMS
(Organização Mundial de Saúde), declarou que para os humanos o amianto é um
agente comprovadamente cancerígeno. Havia esperanças de que o crisotilo ou
amianto branco fosse seguro, mas as evidências científicas disponíveis sobre
o mesmo até o momento demonstram que também provoca câncer. — Faremos um
amplo apelo aos empregadores, aos sindicatos e às organizações da sociedade
civil de todos os países para que participem dessa proibição, considerando-a
uma questão urgente e inerente à decência humana - informou Ryder. Ele
acrescentou que, se planejada adequadamente, a repercussão da proibição do
amianto no emprego poderia ser compensada com uma transição positiva a
outros postos de trabalho. Quase 40 países já proibiram o amianto, mas
outros 80 continuam utilizando o produto.