EUA tem grande dependência de centrais nucleares caras e perigosas
2005-07-01
Os Estados Unidos passarão a depender de caras e perigosas centrais nucleares comerciais a partir da aprovação de uma lei que fomenta esse tipo de energia, afirmam organizações de consumidores e ambientalistas. Mas a indústria responde que construir novas centrais é um dos mecanismo limpos e seguros com que conta o país para se livra da dependência do petróleo árabe e, conseqüentemente, fortalecer a segurança nacional.
O projeto de lei foi aprovado esta semana no Senado por 65 votos contra 12, e agora começará o processo de conciliação das diferenças entre esta versão e a votada em abril pela Câmara de Representantes. Agora os senadores e deputados deverão entrar em acordo sobre o valor dos subsídios para as empresas de energia nuclear, de US$ 4,3 bilhões, em um caso, e de US$ 6,1 bilhões, em outro. A iniciativa inclui, também, grandes cortes de impostos.
Apenas depois que as duas Casas chegarem a um texto único é que o presidente George W. Bush, incentivador da lei, a sancionará. –Os incentivos para a energia nuclear são muito importantes no projeto, disse Michael Mariotte, do Serviço de Informação e Recursos Nucleares (NIRS), organização não-governamental contrária à construção de novas usinas. –Em termos de dólares, a energia nuclear provavelmente seja a parte maior do projeto. Se for aprovada sua formulação atual, talvez US$ 10 bilhões do dinheiro dos contribuintes serão destinados ao setor, e isso é muito dinheiro, segundo Mariotte.
O Escritório de Orçamento do Congresso calculou que, transformado em lei, o projeto custará US$ 35,9 bilhões nos próximos cinco anos. As centrais nucleares norte-americanas, que funcionam à base de urânio enriquecido, já produzem 20% da eletricidade consumida no país, e em sete Estados constitui a principal fonte de energia. O objetivo do projeto é por fim à dependência que os Estados Unidos têm em relação ao petróleo do Oriente Médio. A energia nuclear recebeu no Congresso forte apoio dos líderes do oficialismo e do opositor Partido Democrata. Nos Estados Unidos, há 30 anos não são construídas novas usinas nucleares. Por muito tempo, este tipo de energia foi considerado uma opção pouco econômica e, além disso, insegura, especialmente depois do acidente de 1979 na central de Three Mile Island e do desastre de Chernobyl em1986, na Ucrânia. Em 1979, um reator da Three Mile Island aqueceu e liberou gases radioativos, o que obrigou milhares de moradores a fugirem em caráter de emergência. Foi o pior acidente nuclear da história norte-americana. Os planos para construir novos geradores nucleares comerciais são aplaudidos pela Casa Branca. O presidente Bush expressa preocupação pelo vínculo entre petróleo e segurança nacional, destacado por seus assessores. –O projeto nos ajudará a ampliar o uso de uma fonte de energia completamente doméstica, sem prejuízos ambientais e com capacidade de produzir quantidades maciças de energia: a energia nuclear, disse Bush, na semana passada. –É hora de este país começar a construir centrais nucleares novamente, acrescentou. Entretanto, organizações ambientalistas, de consumidores e de defesa das fontes alternativas de energia advertem que o projeto ignora as conseqüências das centrais nucleares para o meio ambiente e a segurança. –Qualquer um que acreditar que a energia nuclear é uma solução mágica somente está passando a conta para as futuras gerações, disse Carl Pope, diretor da organização conservacionista Sierra Club. Além dos riscos de segurança, ambientalistas alertam que a energia nuclear gera resíduos que permanecem sem se decompor durante séculos nos ecossistemas. –Não é somente perigosa, mas proibitiva. Os enormes riscos de segurança associados a instalações nucleares as tornam impossíveis de serem garantidas, e por isso a indústria quer que os contribuintes paguem a apólice, disse Pope. Os especialistas do Sierra Club consideram que o lixo radioativo deve ser armazenado durante 10 mil anos. Cerca de 300 organizações ambientalistas e de consumidores nacionais e internacionais rechaçaram o argumento de que a energia nuclear reduziria o crescimento do consumo de petróleo e as emissões de dióxido de carbono no tráfego de veículos. Estas organizações se manifestaram a favor de medidas para melhorar a eficiência energética, bem como para o uso de fontes alternativas, como o vento, o sol e o calor geotérmico.
–O aquecimento do planeta é o principal problema ambiental de hoje, e devemos melhorar a eficiência e o uso de fontes renováveis para reduzir a contaminação com carbono, disse Anna Aurilio, do Public Interest Research Group. ( IPS/Envolverde, 29/6)