Questões ambientais não podem ignorar o homem da floresta
2005-07-01
Questões ambientais ocupam, hoje, lugar privilegiado no cenário político mundial e a preservação das florestas ocupam um lugar de destaque nesse contexto. Entretanto, pouco – ou nada – se fala sobre o homem que habita a floresta, suas necessidades e sua sobrevivência.
— O homem da floresta pode morrer de fome e passar despercebido, mas não se pode matar um animal, pois esse é um ato ilegal - criticou o médico e pesquisador Euler Ribeiro, em palestra durante o 18º Congresso da Associação Internacional de Gerontologia, no Riocentro. — Os olhos do mundo só vêem o meio ambiente, mas não vêem o homem que habita esse espaço - lamentou.
Ribeiro é responsável por um estudo que analisou 55 homens, com idade média de 71 anos, e 129 mulheres, com idade média de 70 anos, atendidos em um centro de promoção social, em uma cidade próxima à Brasília. O objetivo da pesquisa foi justamente avaliar o envelhecimento dessas populações e sua qualidade de vida.
Os principais problemas de saúde identificados nos indivíduos foram dor osteoarticular (nas articulações ósseas), pressão alta, insônia, depressão e zumbido. — A alta taxa de hiperglicemia, maior entre as mulheres, está associada à alta ingestão de hidratos de carbono - explicou o médico. Segundo ele, tal realidade está diretamente associada ao estilo de vida e a dieta do caboclo. — A dieta do caboclo é á base de peixe, mandioca e frutos tropicais e é muito pobre em gordura. Eles quase não comem carne vermelha - disse durante sua palestra.
Segundo Ribeiro, a não assistência do homem da floresta – o caboclo, descendentes de índios e brancos – é responsável por situações perversas. — Hoje, esta população apresenta a maior prevalência de câncer de colo uterino da América Latina - lamentou. Ele explica que tal situação é fruto da falta de higiene pessoal e de assistência médica adequada. — Meninas iniciam sua vida sexual muito cedo, freqüentemente em função de estupros perpetrados por tios, irmãos e pais”, alertou o pesquisador.
Ele explica que os caboclos vivem em condições muito precárias e se submetem a esforços físicos diários em função de sua atividade econômica. — Eles vivem basicamente da pesca e da agricultura, do cultivo da mandioca e da juta. Suas moradias são muito distantes dos seus locais de trabalho e, por isso, remam todos os dias por muitas horas para se locomover, até mesmo para ir à escola - exemplificou.
Segundo Ribeiro, outro problema seria a ingestão de bebidas alcoólicas, principal lazer entre os moradores daquelas regiões. Apesar da gravidade dos resultados de sua pesquisa, ele alerta para a possibilidade de que os resultados estejam aquém da realidade. — Essa amostra, talvez não reflita a totalidade da população cabocla, pois nosso estudo foi realizado perto de Brasília. Muitos grupos, entretanto, moram mais no interior da floresta e, por isso, estão ainda mais distantes dos serviços públicos - alertou. (Fonte: Agência Notisa)