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2001-09-06
As mutações das células germinativas do ser humano, causadas principalmente pela exposição a diversas substâncias químicas presentes normalmente em pesticidas e solventes, é uma espécie de elo perdido para os cientistas. Entender este processo genético é o caminho mais rápido e seguro para que a relação entre a principal ocupação dos pais durante suas vidas produtivas e a geração de filhos sem tumores seja definitivamente elucidada. Não será coincidência se trabalhadores rurais, pintores em geral ou operários que lidam com madeira venham, num futuro não tão distante, a ter filhos com leucemia ou tumores no sistema nervoso central. Uma pesquisa recente sobre o assunto, publicado na revista Environmental Health Perspectives, é contundente. Pais que sofreram grande exposição a substâncias químicas usadas em diversos setores industriais (óleo, benzeno, chumbo, etc.) apresentaram mutações em suas células reprodutivas e comprometeram, mesmo antes da concepção, a saúde de seus filhos. O estudo reuniu uma grande amostra de dados, todos coletados na Suécia no fim do século passado. Foram mais de 235 mil crianças, a maioria submetida a um monitoramento até os 15 anos. Deste universo, 1% morreu antes de chegar à fase adulta e 522 desenvolveram algum tipo de câncer. A grande quantidade de informação permitiu que os resultados apresentados respeitassem um intervalo de confiança da ordem de 95%. Os autores (Maria Feychting, Nils Plato, Gun Nise e Anders Ahlbom) se propuseram a investigar apenas os casos de câncer relativos à leucemia e a tumores desenvolvidos no sistema nervoso central. A justificativa apresentada pelos cientistas é de que estes são os tipos de sangue mais comuns entre os recém-nascidos. Segundo a matriz matemática formatada pelos pesquisadores suecos, que cruzou a exposição do pai da criança a diversos compostos químicos com os casos positivos de tumor, os pesticidas são os agentes mais nocivos dentro dos processos que formam o elo perdido. Os pesticidas, muito utilizados por trabalhadores rurais em plantações em geral, foram, a principal causa de danos de tumor no sistema nervoso central. Ainda em termos de índice de risco relativo de desenvolver tumor, os trabalhadores da indústria têxtil foram os que apresentaram índices mais altos neste caso. Na relação entre substâncias químicas e casos de leucemia e câncer no sistema nervoso central, a tabela apresentada pelo grupo sueco, por ordem alfabética, teve, no total, 11 itens. Constam da lista: amianto, benzeno, combustíveis, compostos metálicos, compostos têxteis, chumbo, cromo/níquel, óleo, pesticidas, produtos químicos em geral e solventes. A comunidade científica, apesar de nenhuma posição mais conclusiva ter sido tomada neste campo, já conhece a relação entre compostos químicos e câncer há, pelo menos, 30 anos. É verdade que a maioria dos estudos divulgados relaciona, de forma direta, a exposição a um determinado composto químico e o desenvolvimento da doença. Apenas pesquisas mais recentes é que tentam, com maior profundidade, associar a exposição do pai com o câncer no recém-nascido. Nas palavras da primeira do trabalho publicado recentemente na Suécia, Maria Feychting, existem várias evidências obtidas de estudos de efeitos de câncer transgeracionais em humanos, mas nenhuma ainda pode ser considerada conclusiva. Uma outra hipótese que precisa ser considerada nestes casos diz respeito ao meio ambiente. A relação entre a exposição do pai a um determinado pesticida, por exemplo, e um tumor futuro em um de seus filhos pode ser mera coincidência. Há quem defenda a tese de que, na verdade, as mutações causadas nas células germinativas do pai, antes mesmo da concepção de um novo indivíduo, podem ter gênese ambiental e não simplesmente química, como tenta provar o grupo de pesquisadores da Suécia. Determinar que um certo composto químico causa câncer, ou pode levar ao desenvolvimento de um tumor, na pessoa que se expõe muito a ele, é bem mais fácil. Uma revisão bibliográfica realizada pelo cientista brasileiro Marco Antônio Rêgo, da Fundação Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro, identificou bem esta relação. Entre os trabalhos sobre o tema publicados de 1979 a 1997, quase 55% dos textos apresentam uma relação estatística significante quando foram analisados exposição a solventes e um determinado tipo de câncer linfático. Em um outro grupo de publicações científicas, também analisado por Rêgo, 72,2% apresentaram a exposição a solventes como fator de risco para o desenvolvimento de câncer linfático. A exposição a determinados compostos químicos, que não necessariamente ocorre apenas em um ambiente de trabalho, é apenas uma das causas que podem gerar um tipo de tumor seja de forma direta, ou lá na frente, quando os filhos destes indivíduos expostos forem gerados. Um trabalho publicado em 1998 por Joanne Colt e Asron Blair, ambos cientistas do Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos, tenta mostrar que existem talvez outros pontos a serem investigados, além de buscar saber apenas o local de trabalho do pai daquela criança com câncer. Os pesquisadores norte-americanos mostraram que há na antiliteratura científica mais de mil relações descritas entre câncer e ambiente de trabalho. Mas um dos problemas é que o histórico de vida da mãe da criança, por exemplo, quase sempre é negligenciado e, além disso, não se faz normalmente um monitoramento adequado do casal durante a gravidez. Trata-se de um período igualmente importante, por exemplo, no caso de a mãe fumar. Talvez o problema esteja muito menos oculto. Em casos em que o pai, por exemplo, trabalha em uma fazenda, quase sempre a mãe e a criança, mesmo ainda dentro do útero, já podem estar se contaminando com os pesticidas aplicados nas plantações. Outro dado a ser investigado ainda pelos cientistas é o grau de exposição, já que a dose-resposta de um ser humano pode ser diferente mesmo se o intervalo de tempo for o mesmo, a situação muda mais ainda se duração da exposição for diferente. Mesmo enquanto a busca pelo elo perdido continua e, mesmo assim, as evidências se acumulam, cuidar do inimigo que se encontra no meio ambiente não deixa de ser importante, segundo os médicos. (GM/caderno final de semana)

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