Para ambientalistas, Dilma representou retrocesso
2005-07-01
Por Carlos Matsubara
Se por um lado, Dilma Rousseff, aos 57 anos de idade, cultivou a fama de dama de ferro, especialmente por negociar a reestruturação do setor elétrico, por outro colecionou desapontamentos no meio ambientalista.
Tida como competente nos meios acadêmicos e políticos, a ex-ministra foi incansável como defensora de um modelo de geração energética que causa calafrios nos ambientalistas, as grandes hidrelétricas.
Não fora somente a sua escolha, mas também pela competência elogiada por uns ao exigir rapidez e agilidade nos processos de licenciamento, e por outros, meramente atropelo das causas ecológicas em favorecimento aos mega - empreendimentos. Um caso típico que marcará para sempre sua estadia à frente do ministério é o da já famosa Usina Hidrelétrica de Barra Grande, na divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul.
Confirmada na Casa Civil pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ela preocupa os ambientalistas. O argumento principal é de como ministra ela teria priorizado em sua política energética a construção de diversas hidrelétricas.
— De fato, não tivemos uma experiência muito boa com ela no Ministério de Minas e Energia, principalmente com relação ao caso da Usina Hidrelétrica de Barra Grande-, destaca Miriam Prochnow, coordenadora -geral da Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA).
A ex-ministra, inclusive foi uma das agraciadas com o Prêmio Motosserra concedida pela RMA, durante a Semana da Mata Atlântica, em maio deste ano. — Desejamos que sua postura na Casa Civil promova a integração entre os ministérios e leve em consideração a transversalidade das questões ambientais. Temos esperança que a sua postura seja diferente-, acrescenta.
A RMA atua principalmente no terreno político, oferecendo intercâmbio de informações relativas à Mata Atlântica e sua conservação.
Para o Greenpeace, a ministra representou um retrocesso. — O Brasil, que já foi uma das maiores lideranças dos países em desenvolvimento durante a Rio+10 no que diz respeito a clima e energias renováveis, renunciou a essa posição, deixando de conquistar financiamentos para a implementação de alternativas sustentáveis-, diz Marcelo Furtado, coordenador de políticas para a América Latina do Greenpeace.
Furtado se refere ao discurso de Dilma durante a Conferência de Energias Renováveis que aconteceu na Alemanha no ano passado, quando ela teria apresentado de fato, qual seria a prioridade em seu então ministério. Ali, prossegue o ambientalista, — ela deixou bem claro que considera as energias renováveis como meras coadjuvantes na matriz energética brasileira-.
Na ocasião, Dilma, provavelmente sem se dar conta utilizou as mesmas razões de George W. Bush ao esnobar o Protocolo de kyoto: — O Brasil e os países em desenvolvimento estariam comprometendo suas economias se aceitassem a exclusão das hidrelétricas das fontes de energia renovável-, disse.
Conforme a ONG, durante toda sua estada na Alemanha, Dilma fez — gestos para o mundo retroceder à década de 70, quando as grandes hidrelétricas eram apresentadas como a melhor solução para o suprimento global de energia mesmo causando graves danos sociais e ambientais-.
— A então ministra, com sua posição retrógrada em favor das grandes barragens, pode jogar por terra todo o esforço mundial pró-renováveis e abrir espaço para aqueles países, como por exemplo os produtores de petróleo, que não querem ver mudanças significativas acontecer-, afirma ele.
— Quando falamos de renováveis, estamos nos referindo desde a energia eólica do Ceará e a solar da Bahia, até a casca de arroz do Rio Grande do Sul, a cana-de-açúcar de São Paulo e o biodiesel de mamona de Minas Gerais, de acordo com a vocação específica de cada Estado para gerar sua eletricidade, diz o Greenpeace em seu site.
O Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS) criado em 1990 também não poupa críticas a atuação dela a frente do Ministério. Chegaram a enviar uma carta -documento à ministra, na qual pediam que seu ministério seguisse — diretrizes de transparência e controle social definidos pelo presidente Lula-.
— Constatamos que ela dialogou prioritariamente com a indústria, com vistas ao estabelecimento de um novo modelo e com as instituições que deram consultoria para estabelecer as tarifas do setor-, destaca a coordenação do Fórum.
De uma coisa, porém, ninguém vai poder acusá-la. Dilma mão-de-ferro Rousseff é firme nas negociações e nunca demonstrou inclinação para acordos políticos e concessões de qualquer espécie.