Biomassa deve ganhar espaço como alternativa ao petróleo
2005-07-04
- Estamos no início da moderna civilização da biomassa. A frase é do economista e sociólogo Ignacy Sachs, coordenador do Centro de Estudos sobre o Brasil Contemporâneo da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais da França. Em palestra no Instituto de Estudos Avançados da USP, ele apresentou sua avaliação de que a era do petróleo está no fim. Na opinião do especialista, o modelo atual de civilização será inevitavelmente substituído. - Primeiro saímos do carvão para o petróleo, e agora vamos para a biomassa que, no fundo, significa energia solar, que é renovável. Dependendo de como a transição ocorra, Sachs acredita que o novo modelo energético poderá levar a uma grande transformação econômica e social, resultando em uma civilização sustentável do ponto de vista ambiental e social.
Sachs apresenta três motivos para sua certeza de que ocorrerá uma mudança no padrão energético. O primeiro são os estudos que apontam para um pico na extração de petróleo mundial em 10 a 20 anos. O segundo fica por conta da geopolítica. O custo de depender do Oriente Médio para as suas fontes energéticas estaria muito alto para os Estados Unidos e seus aliados. Por último, o dilema ambiental. O petróleo é o principal responsável pela emissão de gases do efeito estufa e o Protocolo de Kyoto já impõe a redução do seu uso.
A transição de uma matriz energética para a outra levará décadas, lembra Sachs. Mas o economista diz que cada vez mais surge um consenso em torno dos biocombustíveis. O fato é que, com o petróleo a US$ 60 o barril, eles estão competitivos, especialmente o álcool obtido a partir da cana-de-açúcar.
O Brasil é o exemplo a ser seguido, diz Sachs. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), ressalta, também trabalha com a perspectiva de voltar sua matriz energética para os biocombustíveis. Um estudo recente do USDA aponta que o país pode praticamente se livrar do petróleo em 20 anos. Os EUA têm um amplo programa de estímulo à produção de etanol à base de milho, que não é muito eficiente para a produção de energia. Isso porque o custo energético da produção do cereal também é alto, em função do uso de fertilizantes e outros insumos derivados do petróleo. No caso brasileiro, o custo é bem mais baixo. O economista destaca que esta é uma oportunidade de se buscar uma real sustentabilidade da civilização no planeta. - Para isso, porém, não podemos apenas trocar um combustível pelo outro. É preciso repensar todo o padrão de consumo mundial. (Estadão, 01/07)