Coleta seletiva em Porto Alegre desanima cidadãos
2005-06-30
Para alguns moradores de Porto Alegre, a importante tarefa de separar os lixos reciclável e orgânico pode ser em vão. Ao completar 15 anos de implantação, a coleta seletiva na capital gaúcha não abrange toda a população e desanima quem se preocupa com o destino correto e a reutilização desses resíduos. Um exemplo é a paisagista Maria de Lourdes Carvalho Vasconcellos, 62 anos. Pela rua onde mora, Comendador Antônio Fontoura, no bairro Glória, a coleta seletiva deixou de passar há cerca de três anos. - Se o caminhão passasse sempre, o pessoal iria selecionar. Como ele não vem, isso dá margem para não se separar o lixo - relata.
Mesmo assim, a paisagista mantém duas lixeiras nos fundos da casa - uma para o lixo orgânico e outra para o lixo seco. Parte do lixo reciclável tem um destino melhor do que o caminhão do lixo comum - mesmo em diferentes sacos plásticos, lixo orgânico e reciclável são levados direto para o aterro, sem separação. Assinante de sete revistas e de dois jornais, a família arranjou uma alternativa para garantir a reciclagem das publicações antigas: repassa o material seco para cerca de cinco papeleiros. Um deles, um adolescente de 14 anos, chegou a pagar um curso de computação com o dinheiro da venda dos papéis.
Para o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), Maria de Lourdes tem ainda outra opção: procurar os Postos de Entrega Voluntária de Resíduos Recicláveis (PEVs) de seu bairro (veja quadro). As 47 unidades recebem lixo seco reciclável - plásticos, papéis, vidros, metais, embalagens longa vida e isopor -, oferecendo alternativa a moradores de áreas onde não há o atendimento. O diretor-geral do DMLU, Wilton Araújo, afirma que 80% das ruas de Porto Alegre têm coleta seletiva. A partir deste mês, 10 bairros que já dispõem do serviço participarão do projeto-piloto Coleta Seletiva em Dose Dupla, quando o caminhão passará pelo local mais um dia na semana.
- A expectativa é ampliar em 50% o que a coleta seletiva faz hoje - planeja Araújo. Esse aumento gradativo no atendimento deve envolver, até o final do ano, os pontos da cidade que hoje não recebem o benefício. Segundo o DMLU, das 1,6 mil toneladas de lixo por dia produzidas por Porto Alegre em 2004, 38 toneladas foram captadas pela coleta seletiva. Em 2000, esse número chegou a 65 toneladas. (ZH, 30/06)