O bom negócio de preservar a natureza
2005-06-30
Não se trata apenas de consciência ou solidariedade. Ameaçadas pelos riscos de extinção de matérias-primas em função da degradação natural e pela limitação dos mercados consumidores por causa do avanço da pobreza, as empresas acabaram descobrindo que investir em políticas socioambientais é um bom negócio também do ponto de vista financeiro. Desconstruindo mitos, o verde deixou de ser um obstáculo e se transformou em produto. - Não existem bons negócios em sociedades falidas. Por enquanto, só a elite dos empresários sabe disso. Cada vez mais me convenço de que a melhor tradução para a idéia de sustentabilidade está na palavra sobrevivência. Seja a do planeta, a da espécie humana, a das sociedades humanas ou a dos empreendimentos econômicos - analisa o presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), Fernando Almeida.
Fundado em 1997, o Cebds é uma coalizão de aproximadamente 50 dos maiores e mais expressivos grupos empresariais do país, cujo faturamento anual corresponde a 40% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Envolvendo desde redução de consumo de água e energia até preservação de reservas, o desenvolvimento sustentável garante mais produtividade e competitividade no mercado. Com redução do desperdício e fortalecimento de uma imagem positiva junto ao consumidor, as empresas colhem resultados.
A escala é global, e as bolsas de valores começaram a criar índices de sustentabilidade. Historicamente, as ações das cerca de 300 empresas listadas no índice de sustentabilidade da Dow Jones, em Nova York, valorizam algo como 30% mais do que o conjunto de todos os outros papéis da bolsa. - Não é filantropia ou bondade. Em 99% dos casos, o investimento em produção mais limpa traz benefício econômico - afirma Paulo Rosa, diretor do Centro Nacional de Tecnologias Limpas, vinculado ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e com sede em Porto Alegre.
O movimento está longe de ser massificado, mas seu potencial é crescente. Entre 2003 e 2005, o número de empresas que participaram do projeto de qualificação da Rede Brasileira de Produção Mais Limpa, coordenado pelo Cebds e financiado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), subiu de 85 para 200. Até 2007, a expectativa é ampliar para 6.680. No Instituto Ethos, que promove a responsabilidade social entre empresas, o número de associados saltou de 11 para 1,1 mil entre 1998 e 2005.
Nem tudo são flores. Almeida reconhece que ainda há organizações que investem mais em marketing do que em programas socioambientais. Para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que participou da abertura do Congresso Ibero-Americano sobre Desenvolvimento Sustentável, promovido pelo Cebds entre 31 de maio e 2 de junho, no Rio de Janeiro, o mais importante é a preocupação crescente. - Existem os apaixonados e os que vão pela pressão do mercado. Mas não importa. Seja por vaidade, seja por amor a Cristo, o importante é que se pregue o Evangelho - diz. (ZH, 30/06)