Urbano e selvagem juntos no Lami
2005-06-30
O ronco dos bugios se confunde com o grito, amplificado por alto-falantes, de um vendedor de frutas e verduras, que passa em uma Kombi branca pela Estrada Otaviano José Pinto, na zona sul de Porto Alegre. Durante toda a manhã, os animais, normalmente em bandos de dois adultos e quatro ou cinco filhotes, aproveitam um corredor no meio da mata para chegar próximo à área urbana, em busca de folhas e frutas. É assim, misturando aspectos de uma zona urbana e selvagem, que a Reserva Biológica do Lami, a 45 minutos de carro do centro da Capital, atrai pesquisadores, estudantes e amantes da natureza.
A menos de 500 metros da praia, encontra-se este território verde que mistura diferentes ambientes - de banhados à mata de restinga. Criada em 1975, para preservar a éfedra (Ephedra tweedina), uma planta ameaçada de extinção, a reserva foi batizada no último dia 5 ao receber o nome do ambientalista gaúcho José Lutzenberger.
Em uma área de 179,78 hectares, as condições do solo e relevo determinam uma variedade de ambientes. Apesar de um relevo predominantemente plano, há caatingas, matas de restinga e vassourais. Nas pequenas depressões, nas proximidades dos corpos dágua, encontram-se maricazais, banhados e matas ciliares. Entre os animais, além dos bugios, que brincam de esconde-esconde com os visitantes, é possível encontrar capivaras e graxains. Os banhados servem de morada para ratões-do-banhado e preás.
Há 115 espécies de aves catalogadas. Por estar localizada próxima às Ilhas do Delta do Jacuí e a outras áreas de banhado que se estendem nas margens da Lagoa dos Patos, ela funciona como área de pouso e refúgio aos bandos de aves de hábitos aquáticos, em movimentação. Junto ao Arroio do Lami, nas margens do Guaíba, a vegetação oferece abrigo para espécies de peixes depositarem seus ovos. Em uma hora de caminhada, por meio de uma trilha, pode-se conhecer os principais ambientes da reserva. Logo na largada encontra-se uma área de banhado. À direita, mata de restinga. A transição entre um solo árido para úmido é rápida. No caminho, uma surpresa: Proibido pisar, alerta uma placa. A área, de terra fofa, é reservada à desova das tartarugas. Mais adiante, destacam-se répteis, como o jacaré-de-papo-amarelo, o teiú e o lagarto-de-papo-amarelo.
Oito funcionários municipais trabalham na manutenção da reserva. Trata-se de um número pequeno, na avaliação da gerente da reserva, a bióloga Patrícia Bernardes Rodrigues Witt. - Esta semana recolhemos cabos de aço, armadilhas para pegar capivara. De uma plataforma no Guaíba pode-se avistar a Ponta do Cego, a última zona anexa à reserva. Do local também é possível constatar o descaso da população: mesmo em uma das áreas onde o Guaíba é considerado limpo há chinelos velhos e outros tipos de lixo. A reserva não prevê visitação pública. Mas escolas e universidades interessadas em realizar pesquisas no local podem agendar passeios. (ZH, 30/06)