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2005-06-30
Por Carlos Matsubara
As águas dos mares brasileiros podem gerar, num futuro próximo, muito mais do que surfistas e peixinhos. Se depender da Petrobras, vai render energia elétrica. Muita. Algo em torno de 180 GW. Para se ter uma idéia, o potencial instalado da mega-hidrelétrica de Itaipu gira em torno de 12 GW ou 12 mil MW.

Desde o começo deste ano a multinacional, através do seu centro de pesquisas, o Cenpes do Rio de Janeiro, tenta descobrir o potencial energético de todo litoral brasileiro. Feito o levantamento a empresa poderá escolher de que maneira vai tirar energia elétrica dos mares.

São quatro as possibilidades: através das ondas, das marés, das correntes e por meio de gradiente térmico, que consiste na geração por meio da diferença de temperatura da água. Conforme o engenheiro do Cenpes, Francisco Mateus Miller, além dos futuros pontos de prospecção, a Petrobras estuda também tecnologias para reverter a força do mar em energia. — Existem muitas alternativas que vem sendo utilizadas mundo afora, mas talvez seja necessário inventar alguma que seja mais apropriada às características locais-, explica.

Os 180 GW citados no primeiro parágrafo são apenas estimativas baseadas no potencial de 40 GW já identificados no litoral do sul e sudeste. O engenheiro Miller ressalva que ainda é muito cedo para apresentar dados concretos, mas lembra que esse levantamento faz parte de uma estratégia muito bem definida da Petrobras em tornar-se uma empresa também fornecedora de energia. São os dois olhos bem abertos, um voltado a este setor, e o outro para a petroquímica. — São dois processos irreversíveis-, brinca.

Esse projeto faz parte do Programa Tecnológico de Energias Renováveis (Proger) criado no ano passado para atuar na pesquisa e desenvolvimento de tecnologias que viabilizem o uso de fontes renováveis, como biodiesel, eólica, solar e eólica e consomem 0,5% do investimento total da Petrobras.

Mesmo em escala mundial a energia dos mares é pouco aproveitada. A maioria das instalações de centrais têm potência reduzida. Basicamente fornecem energia para faróis isolados ou como carregadores de baterias de bóias de sinalização, quase sempre também geradas a partir das marés que são o resultado de uma romântica combinação da natureza: atração do sol e da lua e do movimento de rotação da Terra que leva à subida e descida da água.

Os países mais avançados neste tipo de energia, segundo o engenheiro da Petrobras, são Escócia, Portugal e Dinamarca. Mas é a França que possui a maior e mais desastrosa experiência do ponto de vista ambiental. Os franceses conseguiram a proeza de construir uma dantesca usina em pleno estuário de La Rance , na região da Bretanha. A sua capacidade de gerar até 240 milhões de watts de força é suficiente para uma cidade de 300 mil habitantes, mas pode ter contribuído para arrasar todo um ecossistema.

A obtenção da energia é semelhante ao da energia hidrelétrica, constrói-se uma barragem para formar um reservatório. Quando a maré é alta, ele é enchido pelas águas, quando baixa, é esvaziado para que a água passe por uma turbina em sentido contrário produzindo energia. — É claro que este tipo de tecnologia não passa pelas nossas cabeças-, garante o engenheiro da Petrobras.

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