Dióxido de carbono está deixando os oceanos ácidos, revela pesquisa
2005-07-04
Cientistas britânicos estão lançando uma pesquisa na
qual revelam que o dióxido de carbono (CO2), principal
gás de efeito estufa, faz com que os oceanos se tornem
ácidos. Em um relatório lançado na semana passada, os
pesquisadores da Sociedade Real Britânica advertiram
que essa crescente acidez seria muito prejudicial aos
recifes de corais e a outras formas de vida marinha
até o final do século.
— Acho que há sérias questões a serem
encaminhadas, disse o Dr. John Raven, secretário do
painel e pesquisador da Universidade de Dundee, na
Escócia, em entrevista. — Isto afetará os
organismos que têm esqueletos, conchas e invólucros
com carbonato de cálcio, esclareceu.
O relatório, de 60 páginas, foi programado para
influenciar o Grupo dos Oito Países mais desenvolvidos
(G8), que se reúne a partir desta semana na Escócia. O
primeiro-ministro britânico, Tony Blair, presidente do
grupo neste ano, está conclamando ações para limitar a
mudança climática.
Diferentemente de previsões de aquecimento global, que
são baseadas em modelos computacionais complexos e
incompletos, a química do carbono e das aguas marinhas
é simples e muito direta. A queima de combustíveis
fósseis por carros e plantas industriais libera mais
de 25 bilhões de toneladas métricas de carbono no ar a
cada ano. Diretamente, um terço dessa quantidade é
absorvido pelos oceanos, onde o gás passa por reações
químicas que produzem o ácido carbônico, o que corrói
conchas marinhas. —É indisputável. Não penso que
alguém possa contestar. É realmente química de
colégio, assinalou.
A escala de pH, que mede a concentração de hidrogênio,
vai de 1 — o valor mais ácido ou de maior
concentração de íons — até 14 — o mais
alcalino, com quase nenhum íon. As águas do oceano,
hoje, são de alguma forma alcalinas, com pH de 8.1,
cerca de 0.1 menor que quando iniciou a Revolução
Industrial, há uns cem anos.
Mas a exemplo da magnitude dos terremotos, uma unidade
na escala de pH reflete uma mudança no fator de 10. O
fato de haver uma mudança de 0.1 no pH significa que
agora existe mais 30% de íons hidrogênio na água do
mar. Dependendo da taxa de queima de combustíveis
fósseis, o pH da água do oceano perto da superfície
deverá cair para 7.7 a 7.9 até 2100, o nível mais
baixo dos últimos 420 mil anos, segundo o relatório da
Sociedade Real.
O pesquisador sênior Dr. Patrick J. Michaels, da área
de Estudos Ambientais do Instituto Cato, um grupo
liberal com sede em Washington que é cético sobre a
possibilidade de o aquecimento global trazer algum
dano ambiental, apontou que os níveis de dióxido de
carbono na atmosfera têm sido os maiores nos últimos
90 milhões de anos.
Mas o Dr. Ken Caldeira, cientista do Departamento de
Ecologia Global do Instituto Carnegie em Stanford,
Califórnia, e membro da Sociedade Real, disse que a
diferença era que o nível atual de dióxido de carbono
cresceu muito rapidamente, em apenas dois séculos over
just two centuries. No passado, a água do fundo do
oceano teria se misturado, diluindo o efeito do
dióxido de carbono. —Se tivéssemos tido a taxa
de despejo dos últimos cem mil anos, nada teríamos com
que nos preocupar, disse ele.
A mudança de pH causada pelo aumento da temperatura é
provavelmente tão significativa que os corais de
recife já estão sofrendo com altas temperaturas e a
poluição. —Pela metade dos anos 2050,
provavelmente serão percebidos lapsos dentro dos
corais de recife, disse o Dr. Raven. O crescimento da
acidez poderia reduzir populações de plâncton com
conchas de carbonato de cálcio, destruindo a cadeia e
prejudicando a pesca, afirmam os cientistas. (Com informações do NY
Times, 1º/7)