Combate à poluição esquenta mais a Terra, diz pesquisa publicada na Nature
2005-07-04
Parece que o progresso tecnológico colocou a humanidade em mais uma encruzilhada do aquecimento global. Se tornarem seus combustíveis e máquinas menos poluentes, as nações do planeta estarão empurrando cada vez mais a mudança climática para níveis catastróficos até 2100. A conclusão vem de um estudo na edição de hoje da revista científica britânica Nature (www.nature.com) e refere-se especificamente ao papel dos aerossóis -as partículas em suspensão na atmosfera, que podem ter fontes naturais mas também são emitidas em grande escala por automóveis e indústrias. Tudo indica que esses aparentes vilões estão, na verdade, impedindo que a Terra fique ainda mais quente do que já se tornou por causa da emissão desenfreada de gás carbônico. A substância é o principal causador do efeito estufa, impedindo que o calor do Sol escape do planeta.
Agora, a má notícia: quando se leva em conta a diminuição de aerossóis por causa do uso de tecnologias menos poluentes, os pesquisadores calculam que, até em cenários otimistas, a temperatura subiria mais de 6ºC até 2100. - Seria uma mudança tão grande quanto a que aconteceu no fim da Era do Gelo, mas acontecendo com rapidez dez vezes maior, declarou à Folha Peter Cox, diretor científico de mudança climática do Centro de Ecologia e Hidrologia do Reino Unido.
Cox é um dos autores do trabalho, ao lado do biogeoquímico Meinrat Andi Andreae, do Instituto Max Planck de Química (Alemanha) e de Chris Jones, do Centro Hadley de Previsão e Pesquisa do Clima, também no Reino Unido. Jones comparou a atual situação a dirigir um carro com o acelerador e o breque acionados ao mesmo tempo. - Agora estamos tirando o pé do breque, mas não sabemos que velocidade vamos acabar atingindo.
A afirmação se refere às incertezas que ainda cercam o papel dos aerossóis no clima. Ninguém sabe que parcela do aquecimento a presença atual deles na atmosfera ajudou a deter: há só estimativas, mas o trabalho sugere que até as mais modestas se refletem numa contribuição significativa.
O mais urgente agora, segundo os cientistas, é quantificar para valer a influência dos aerossóis no clima global, usando, por exemplo, medições por satélite. - Isso é bem difícil de fazer de forma quantitativa, mas é o único jeito, diz Andreae. Isso sem falar num plano mais ambicioso de redução das emissões de gás carbônico, a única verdadeira saída. (FSP, 30/6)