Reator Iter busca energia nuclear limpa e ilimitada
2005-06-30
A fusão nuclear controlada, que será pesquisada no Iter - Reator
Termonuclear Internacional Experimental, com sede no sul da França,
representa a última aventura dos físicos para dotar o mundo de uma energia
nuclear mais limpa e ilimitada.
A fusão termonuclear, que pretende imitar o que acontece no interior do Sol,
é objeto de profundas pesquisas há anos. Os cientistas tentam fazer com que
os núcleos de dois isótopos de hidrogênio se unam para formar hélio, e isto
gere uma grande quantidade de energia.
Enquanto a fissão nuclear, ou seja, a fragmentação do átomo para obter
energia, é perfeitamente controlada há décadas, a fusão é uma técnica que
não se domina em absoluto.
Para isso, o programa Iter, que reúne como sócios União Européia, Rússia,
China, Japão, Estados Unidos e Coréia do Sul, conta com um orçamento de 10
bilhões de euros para um prazo de 30 anos. A escolha de Cadarache, cidade do
sul da França, como sede do projeto foi anunciada nesta terça-feira (28/6), depois
de meses de negociações.
Várias décadas serão necessárias para a execução de numerosos
experimentos e a produção de energia graças a esta técnica. Há 46 anos,
Cadarache participa ativamente das pesquisas internacionais sobre energia
nuclear. No total, 4.300 pessoas trabalham na central, implantada desde 1959
na cidade francesa de Saint Paul les Durance, a 70 quilômetros de Marselha.
Além disso, Cadarache abriga desde 1988 o reator experimental Tore Supra,
uma espécie de irmão pequeno do Iter, no âmbito de um programa europeu que também inclui o reator Jet, instalado na Grã-Bretanha. O projeto Iter
pretende conjugar a potência do Jet e a duração do Tore Supra.
Ao saber da escolha de Cadarache, o presidente Jacques Chirac
afirmou que a decisão é uma vitória para a França, a Europa e o conjunto de
sócios do Iter. Já o primeiro-ministro Dominique de Villepin destacou que a
opção por Cadarache ilustra a capacidade dos países da União Européia de
executar, unidos, grandes projetos.
–É um projeto científico com grandes ambições, que permitirá o
desenvolvimento de uma energia de futuro sem provocar impactos negativos no meio ambiente e sem esgotar os recursos naturais, explicou Villepin,
garantindo que o projeto significará a criação de 4 mil empregos.
Ecologistas - No entanto, para diversos movimentos ambientalistas, o reator
Iter será perigoso, caro e em nenhum caso gerador de empregos. –Somos
contrários a este projeto, porque é muito perigoso e não criará empregos na
região, afirmou Jean Marcon, presidente da associação de defesa do meio
ambiente Mediane.
Para a rede Abandonar a Energia Nuclear, que reúne quase 700 associações, o
projeto é perigoso porque a manipulação que se pretende realizar com o
hidrogênio ainda é desconhecida. Segundo eles, até o Prêmio Nobel de Física
em 2002, o japonês Masatoshi Koshiba, advertiu que o Iter não cumpria um
certo número de condições, a maioria em termos de segurança, para se
transformar em uma futura fonte de energia quase inesgotável. (Estadão
Online, 29/6)