Destinação correta dos resíduos sólidos urbanos requer investimentos iniciais de R$ 1,3 bilhão
2005-06-29
O Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil é um estudo realizado pela
Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais –
Abrelpe – desde 2003. Em sua segunda edição, com dados referentes ao ano de
2004, ele mostra que a questão do lixo no país demanda não só vontade
política para fazer andarem os projetos e educação ambiental em massa, para
levar ao povo procedimentos de asseio basilares. Mais que isso, todo esse
processo vai requerer investimentos vultosos, da ordem de R$ 1.3 bilhão na
fase pré-operacional e R$ 80 milhões / mês na fase operacional.
A íntegra do estudo pode ser acessada em http://www.abrelpe.com.br/images/Panor2004.pdf
Divulgada recentemente, essa segunda versão do Panorama reúne dados
preciosos para a compreensão da magnitude de um problema que causa danos ao
meio ambiente, à saúde das pessoas e à economia do país. Pelos cálculos da
Abrelpe, a reposição dos atuais aterros sanitários, cuja quase totalidade
encontra-se em final de vida útil, vai consumir investimentos da ordem de R$
500 milhões na fase pré-operacional e de R$ 40 milhões/mês na fase
operacional. Novamente, vem à baila a questão da vontade política, posto
que, apesar de aparentemente grandiosos, tais investimentos tornam-se de
importância insignificante quando colocados defronte aos prejuízos da saúde
pública decorrentes da falta de saneamento básico.
— A descontaminação de áreas cujos resíduos não são passíveis de tratamento
no próprio local tem apresentado uma demanda crescente, tanto no aspecto da
legislação ambiental quanto nas oportunidades de implantação de novos
empreendimentos imobiliários - coloca o estudo, cuja estimativa registra a
existência, no Brasil, de 7.924 locais de disposição inadequada de resíduos
que, de uma forma ou outra, acabam por contaminar o solo e o lençol
freático.
No plano dos resíduos de origem industrial, o quadro tampouco é animador.
Chega a estarrecer quando o estudo revela que, das 700 áreas contaminadas
cadastradas no Estado de São Paulo, 64% pertencem a postos de combustíveis.
O trabalho mostra que cerca de 10% de todas as emergências atendidas no
Estado dizem respeito a vazamentos em postos de combustíveis. Só na capital,
onde funcionam mais de 1.900 estabelecimentos dessa natureza, há 250 áreas
contaminadas por vazamento de combustíveis. Outras 60 áreas na capital estão
contaminadas por atividades industriais, comerciais e disposição inadequada
de resíduos, entre outras agressões. Em 2004, apenas cerca de 3 milhões de
toneladas de resíduos industriais foram tratadas no país, uma
insignificância já que, atualmente, o Brasil gera em torno de 53 milhões de
toneladas de resíduos industriais por ano.
Mas nem todas as notícias são ruins. O Brasil tem hoje 237 cidades, em todas
as regiões, com coleta seletiva de lixo. Parece pouco diante do universo de
5.560 sob a bandeira verde-amarela, mas a curva é ascendente e os números,
otimistas. Ainda mais se observados os estímulos à reciclagem que
invariavelmente caminham junto com a coleta seletiva. Os dados mais
significativos quanto à reciclagem podem ser sintetizados a seguir:
• A taxa de recuperação de papéis recicláveis evoluiu de 30,7% em 1980 para
43,9% em 2002;
• A reciclagem de plásticos pós-consumo é da ordem de 17,5%, sendo que na
Grande São Paulo o índice é de 15,8% e no Rio Grande do Sul é da ordem de
27,6%;
• A reciclagem de embalagens PET cresceu de 16,25% em 1994 para 35% em 2002;
• A reciclagem das embalagens de vidro cresceu de 42% para 45% entre 2001 e
2003;
• O Brasil é o líder de reciclagem de latinhas de alumínio, entre os países
onde não é obrigatória por lei a reciclagem, tendo alcançado, em 2003, o
índice de 89%;
• O índice de reciclagem de latas de aço para bebidas evoluiu de 43% em 2001
para 75% em 2003.
O aproveitamento racional de resíduos sólidos que, antes, só faziam aumentar
o volume de lixo efetivamente sem serventia já foi reconhecido como
alternativa válida e eficaz para minimizar o problema. Segundo o trabalho da
Abrelpe, estima-se que atualmente sejam coletadas 162.232 toneladas por dia
de resíduos sólidos urbanos, das quais 125.095 toneladas/dia referem-se aos
resíduos domiciliares e comerciais e 37.137 toneladas/dia aos resíduos
coletados em vias públicas. Conforme constatado na Pesquisa Nacional de
Saneamento Básico – 2000, do IBGE, cerca de 60% desses resíduos não têm
destinação final adequada.
Segundo Walter Capello Júnior, secretário geral da Abrelpe, a média de
geração per capita de resíduos sólidos brasileira é de 750 gramas/dia – o
que rende 12 mil toneladas diárias, em média, só na cidade de São Paulo,
cuja população flutuante é significativa. Entre os maiores desafios das
Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais está a destinação correta
através de tratamentos e a implantação contínua de sistemas de coleta
seletiva.
A Política Nacional de Saneamento Básico definida no Projeto de Lei 5292/05,
hoje tramitando no Congresso Nacional, estabelece a universalização da
coleta de lixo, a qual devem ter acesso todos os domicílios residenciais do
país. Soa um tanto utopicamente ao senso comum, mas o fato é que todas as
cidades acima de cem mil habitantes já dispõem do sistema de coleta. “Se não
é por empresa privada, é pela própria administração pública”, diz Walter
Capello Júnior.
Nos 303 municípios com população entre 50 mil e 100 mil habitantes, a grande
maioria também já é atendida nesse quesito. Restam, assim, 4.980 cidades,
todas com população inferior a 50 mil pessoas. Do ponto de vista
empresarial, elas não chegam a seduzir o ramo de coleta. — Não é rentável em
cidades pequenas porque a nossa economia é de escala - explica Capello. Mas
a saída para esse problema também já pode ser vislumbrada. A Lei Federal
11.101/05 estabelece normas para a criação de consórcios entre Municípios,
justamente de modo a viabilizar que eles contratem em bloco não só o sistema
de coleta de resíduos, mas também, por exemplo, projetos de saneamento
básico no que se refere ao tratamento de esgotos e sistemas de transportes.
De acordo com os estudos da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza
Pública e Resíduos Especiais, os investimentos pré-operacionais necessários
para universalização da coleta de resíduos sólidos são da ordem de R$ 800
milhões e de R$ 40 milhões/mês na fase operacional.
(AmbienteBrasil, 28/06)