BR-163: Sustentabilidade depende da presença do Estado e do diálogo com a sociedade
2005-06-27
— O sucesso do plano da BR-163 Sustentável está vinculado a capacidade da
sociedade em fazer valer suas reivindicações - afirmou Sérgio Guimarães,
representante do Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (FORMAD) na audiência pública realizada na quarta-feira, (22/06), em Cuiabá, na Assembléia
Legislativa de Mato Grosso.
Guimarães iniciou sua fala na audiência desfazendo três mitos presentes na sociedade. O primeiro, de que as ongs não querem o
asfaltamento. — Somos a favor e reconhecemos a necessidade do asfaltamento,
desde que a prevenção e mitigação dos danos sociais e ambientais sejam
atendidas - destacou.
O segundo mito a ser desfeito foi em relação à presença do Estado. De acordo
com Sérgio Guimarães a sociedade civil sabe e elenca como prioridade na
região a presença do Estado, da governança da região a fim de que a
cidadania seja implementada de fato. Para Guimarães é importante a maior
presença do Estado para que ações preventivas e emergenciais sejam, de fato,
implementadas, principalmente no caso da regularização fundiária, incluindo
a titulação de posses àqueles de direito e assentamentos dos acampados, além
de inibir as ações de grileiros na região.
O último mito se referiu a origem
das organizações sociais. — Todas as principais entidades civis que estão propondo alternativas de sustentabilidade para a região são brasileiras. Não
há pressão de organismos internacionais - ponderou.
De acordo com Guimarães, é preciso que o governo federal, por meio do Grupo
de Trabalho Interministerial que está preparando a versão final do Plano
BR-163 Sustentável, intensifique o diálogo com a sociedade civil, assim como
legitime as reivindicações e propostas das ongs e movimentos sociais. — O
processo de interlocução tem sido muito rico, no entanto algumas questões
prioritárias ainda precisam ser melhor debatidas e especificadas - ressaltou
lembrando que muitas das propostas do governo para a área ambiental ainda
são muito genéricas e carecem de mecanismos de desenvolvimento dessas ações.
Consórcio Socioambiental
A importância de fortalecer o diálogo do governo federal, estadual e
municipal com a sociedade civil e a efetivação da rodovia Cuiabá-Santarém
com ações que resgatem a ausência histórica do Estado na região são duas
premissas que nortearam todo o processo de construção de propostas dos
movimentos sociais e organizações não-governamentais, culminando na criação
do Consórcio pelo Desenvolvimento Socioambiental da BR-163, no final do ano
passado, em Santarém (PA), com 32 entidades.
O principal objetivo do Consórcio é ser um interlocutor ativo com o governo
federal para viabilizar a implementação de ações prioritárias levantadas
pelos movimentos sociais, ambientais e produtores familiares em relação ao
asfaltamento da rodovia Cuiabá-Santarém. O Consórcio também acompanhará as
propostas do Plano BR-163 Sustentável do Grupo de Trabalho Interministerial,
chefiado pela Casa Civil, para a rodovia e seus efeitos ao meio ambiente e
as comunidades da região, como forma de garantir a contemplação dos
interesses das populações locais e a conservação dos recursos naturais sejam
contemplados, trazendo a sustentabilidade efetiva da rodovia.
Entre as prioridades apontadas pelos movimentos sociais, identificadas em
encontros locais e regionais e desde 2003, estão a necessidade de criação e
consolidação de áreas protegidas, bem como a regularização imediata de
assentamentos da reforma agrária. Junto a isso, soma-se a necessidade de
maior efetividade das políticas à agricultura familiar e incentivo às
atividades sustentáveis. De acordo com as propostas do Consórcio, há a
necessidade de prover infra-estrutura para todos os segmentos sociais da
região de forma que a rodovia Cuiabá-Santarém não se transforme apenas num
corredor de exportação de grãos.
Taxa para garantir ações socioambientais
Uma forma de garantir a sustentabilidade da rodovia Cuiabá-Santarém, com
todas as ações propostas de infra-estrutura do governo federal, além das
medidas apontadas pelos movimentos sociais pode ser a adoção de uma taxa de
sustentabilidade sobre o pedágio da estrada e financiamento por
instituições nacionais e internacionais, tendo em vista o modelo de
concessão de rodovia acenado pelo governo federal.
A proposta, apoiada pelo Consórcio Socioambiental, está no estudo “A
pavimentação da BR-163 e os desafios à sustentabilidade: uma análise
econômica, social e ambiental”, em que os autores estimaram os benefícios
privados e os danos ambientais provenientes da pavimentação da rodovia em
dois cenários para a BR-163. Utilizando de ferramentas da economia
ambiental, o estudo pesou os benefícios privados resultantes da pavimentação
de um lado e por outro lado os custos ambientais ligados ao desmatamento
induzido por conta desses benefícios. Entre os dados levantados para o
estudo está o fato de que atualmente as principais rodovias da Amazônia
concentram 80% do desmatamento da região nos primeiros 50 quilômetros de
cada margem.
Num cenário de governança, ou seja, com as ações e políticas públicas em
fase de detalhamento no Plano BR-163 Sustentável, do Governo Federal, os
custos ambientais da pavimentação foram estimados em 608 milhões de dólares
nos próximos 20 anos. Já num cenário sem governança, mantendo a forma
histórica de pavimentação na Amazônia e todo o processo de ocupação
irregular no entorno, esse custo sobe assustadoramente para 1,9 bilhão de
dólares para o mesmo período. Esta cifra representa duas vezes o custo total
da pavimentação da Cuiabá-Santarém.
A proposta da taxa é assegurar fonte de recursos contínua para as ações de
desenvolvimento socioambiental na região. Há também a necessidade de
implantação de um fundo de desenvolvimento sustentável da BR-163, que
garantiria a aplicação efetiva dos recursos arrecadados. Para tanto, a forma
de gestão das políticas públicas e desses recursos deverá ter a participação
da sociedade.
Acesse o estudo na íntegra pelo site do Instituto Centro de Vida – ICV:
www.icv.org.br
(Com informações da Agência de Notícias Ambientais Estação Vida)