A administração Bush está planejando a primeira fabricação governamental de plutônio 238 desde a Guerra Fria, instigando o debate acerca dos riscos e benefícios desse material letal. A substância, valorada como fonte de energia, é tão radioativa que mesmo uma pequena amostra pode causar câncer.

O plutônio 238 é utilizado em radioisótopos de geradores termoelétricos, que convertem o calor do decaimento radioativo em eletricidade e depois em energia para aeronaves em longa distância. A aeronave Cassini, por exemplo, tem três geradores, um dos quais é movido a plutônio.

Oficiais do governo federal afirmam que o programa proporcionará uma produção total de 330 gramas durante 30 anos no Laboratório Nacional de Idaho, um sítio que se estende por Idaho Falls, a cerca de cem milhas a oeste e acima do Grande Parque Nacional de Wyoming. Segundo os mesmos agentes, o programa poderia custar US$ 1,5 bilhão e gerar mais de 50 mil tambores de resíduos radioativos.

Gerentes do projeto afirmam que a maioria, senão todo o plutônio, estaria destinado a missões secretas, e eles declinam a divulgação de detalhes. No tempo da Guerra Fria, este tipo de atividade era realizado para a produção de dispositivos de espionagem.

–A razão real pela qual demos início à produção foi a segurança nacional, disse Timothy A. Frazier, líder dos sistemas de energia de radioisótopos no Departamento de Energia (DOE), em recente entrevista. Ele nega vigorosamente que qualquer uma das missões envolva armas nucleares ou satélites.

O laboratório é fonte de orgulho e de emprego para muitos moradores das redondezas de Idaho Falls. Mas o segredo está causando um clima de desconforto em Wyoming, onde os ambientalistas estão realizando um escrutínio sobre o plano de produção – tornado público na última sexta-feira (24/6) – e considerando formas de lutar contra ele.

Para os ambientalistas, este esforço de produção significa uma ameaça potencial aos ecossistemas vizinhos, incluindo o Parque Nacional de Yellowstone, o Grande Parque Nacional e a área em torno da Depressão Jackson, famosa por suas celebridades bilhonárias e pela presença de caubóis de fim de semana como o vice-presidente Dick Cheney. –É como enrolar totalmente a bandeira, afirma Mary Woollen-Mitchell, diretora executiva do grupo Mantenha o Yellowstone Livre de Energia Nuclear, uma ONG com sede na Depressão Jackson. Segundo ela, as pessoas estão começando a prestar atenção ao plano.

O plutônio 238 não tem papel central em armas nucleares. Ao invés disto, seu valor é para aquecimento, ou seja, para a geração de eletricidade por meio do calor. Mas já houve acidentes com o uso do material. Em 1964, uma falha em um foguete levou à destruição de um satélite de navegação movido a plutônio, espalhando radioatividade pelo globo. Em 1965, no Himalaia, um grupo de inteligência perdeu um dispositivo de plutônio que seria utilizado para auxiliar em espionagens na China. E, em 1968, um satélite errante chocou-se contra o Pacífico, e agentes federais recuperaram uma bateria de plutônio intacta no Canal de Santa Barbara, na Califórnia. (Com informações do NY Times, 27/6)