Inocentado, diretor do Ibama busca rumo
2005-06-24
Depois de ficar quatro dias preso em Cuiabá, ter seu nome associado à quadrilha desbaratada pela Operação Curupira e, pouco depois, ser inocentado, o diretor do Ibama, Antonio Carlos Hummel, diz que ainda não encontrou o rumo. Há duas semanas descansando com a família no Pará, Hummel não decidiu nem mesmo se retornará ao cargo de diretor de Florestas, do qual foi afastado por 60 dias, quando sua prisão foi decretada pela Justiça. - Só retomo se tiver um salvo-conduto ou um habeas-corpus preventivo - ironiza. - Minha prisão foi precipitada, arbitrária, gratuita. É inadmissível responsabilizar um diretor em Brasília por um problema local.
Hummel pensa em ingressar com uma ação na Justiça, pedindo reparações pelos danos sofridos ao longo dos últimos dias. - Minha vida virou de pernas para o ar. Meus pais idosos e meus filhos viram meu nome associado à quadrilha. Nunca imaginei passar por isso - diz. Os problemas de Hummel, porém, ainda não acabaram. Excluído da lista de indiciados pela Polícia Federal na Operação Curupira, de combate à exploração ilegal de madeiras na Amazônia, ele continuará sendo investigado pelo Ministério Público Federal e pode ser denunciado com os demais envolvidos. A afirmação é do procurador da República Mario Lúcio Avelar, de Cuiabá (MT), que, nos próximos dias, trabalhará na denúncia formal do caso.
O procurador sustentou ontem que há fortes indícios de envolvimento do diretor na fraude que propiciou um mercado clandestino de madeira avaliado em R$ 890 milhões. Funcionário ainda do antigo Instituto Brasileiro de Defesa Florestal (IBDF), Hummel teve sua prisão temporária decretada pela Justiça um dia antes de a Operação Curupira. - Acompanhei as investigações dessa operação. Ajudei a suspender e invalidar 2 mil planos de manejo em áreas indígenas. Imagine a minha surpresa - conta ele.
Hummel diz que, nas últimas duas semanas, tem tentado descansar. - Mas, sem querer, a imagem da prisão retorna. Aí vem junto a raiva e o inconformismo - diz. - Prisão tem de ser o fim de um processo, quando há provas suficientes para mostrar a culpa de alguém. Isso parece tão básico, mas não foi o que aconteceu comigo – diz ele.
Engenheiro florestal, Hummel diz que, num primeiro momento, pensou em nunca mais retomar suas atividades. Mas agora começa a pensar melhor. - É o que sei fazer - diz. O diretor atribui sua prisão a dois fatores: precipitação e uma má vontade contra tudo o que é feito pelo Ibama. - O instituto deveria ser fortalecido. Mas hoje ele é visto como um cachorro morto, alvo fácil para ser chutado - diz. Hummel observa que o Ibama dispõe de 43 engenheiros florestais para cuidar de 5 milhões de km2, a área da Amazônia. - Um número de funcionário equivalente a de um hotel de segunda categoria. É claro que, por melhor que seja a intenção, fica difícil fazer um bom trabalho. Hummel afirmou que, ainda na prisão, teve uma conversa tranqüila com Mário Lúcio Avelar, o procurador que pediu sua prisão temporária. - Foi um diálogo civilizado - conta. (Amazônia.org.br, 23/06)