Cacau baiano vira modelo de econegócio
2005-06-23
Os cacaueiros que crescem sob as árvores da Mata Atlântica geram lucro e
ainda garantem a conservação de grande parte do bioma, que já teve mais de
92% de sua cobertura original devastada. Essa exploração econômica
sustentável das florestas se estende por mais de 500 mil hectares do Estado
da Bahia e que virou modelo de produção sustentável. A prática ainda pode
ajudar nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio - uma série de metas que
os países da ONU se comprometeram a atingir até 2015, abrangendo áreas como
meio ambiente e pobreza.
O processo de produção na Bahia está atraindo o interesse de produtores
internacionais. O tema está sendo abordado no II Seminário de Econegócios na
Mata Atlântica. Realizado pela UMA - Universidade Livre da Mata Atlântica e
pelo PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o evento
reuniu até esta terça-feira (21/06) em Ilhéus (BA) ambientalistas e
representantes do setor de todo o mundo para divulgarem a prática como
ferramenta que pode contribuir para o cumprimento dos Objetivos do Milênio.
Uma iniciativa coordenada por um dos produtores da região pretende
conquistar a preferência dos consumidores de chocolate para impulsionar o
econegócio. — O projeto Fazenda de Chocolate tem o objetivo de agregar valor
ao cacau produzido em ambientes de altíssima biodiversidade - afirma Eduardo
Athayde, diretor da UMA e da unidade brasileira do WWI - Worldwatch
Institute, realizadores da iniciativa. Segundo ele, a procedência do
chocolate estampada na embalagem permitiria que os consumidores optassem
pelo produto que contribui para conservar o meio ambiente.
Athayde defende que, conquistando a preferência do consumidor, o econegócio,
além de ser mais lucrativo, aumentaria a participação dos fazendeiros no
faturamento do setor de chocolate. — Esse mercado movimenta cerca de US$ 60
bilhões por ano, mas apenas 3,3% disso vai para os produtores de cacau. No
interior da Bahia, o quilo do cacau é vendido a R$ 4 e, no porto de Ilhéus,
o chocolate é vendido a R$ 80. Isso é 200 vezes mais - reclama.
Atualmente,
a Bahia é responsável por 4,25% de todo o cacau produzido no mundo. Desse
total, entre 50% e 60% é cultivado em sistema agroflorestal.
Conhecida como cabruca, a técnica de cultivar os cacaueiros entre a
vegetação nativa da Mata Atlântica, além de ser ecologicamente correta,
poupa trabalho e melhora a qualidade do fruto, aponta um estudo do WWI. O
sistema dispensa a derrubada de árvores imensas, diminui o risco de
propagação de pragas e garante à planta as condições de umidade e
temperatura adequadas, além de um solo rico em nutrientes, obtidos a partir
da decomposição das folhas que caem no solo.
O diretor da UMA ressalta que a estratégia para conquistar a preferência dos
consumidores é atacar com publicidade. — Perguntamos a mestres chocolateiros
de todo o mundo o que era chocolate e cada um nos deu uma resposta
diferente. Concluímos então que o chocolate é basicamente cacau e marketing.
Temos que estimular, então, o ato do consumo sustentável - afirma. (PrimaPagina/PNUD, 20/06/2005)