Poluição aérea limita nascimento de meninos
2005-06-23
Além de reduzir a expectativa de vida e aumentar o risco de doenças cardiorrespiratórias, os altos índices de poluição atmosférica são agora apontados como responsáveis por outro problema: a redução do nascimento de meninos. Estudo inédito do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), que reuniu dados epidemiológicos e pesquisas em laboratório, indica que, quanto maior o índice de poluição, maior a desproporção entre o nascimento de meninos e de meninas.
— O trabalho mostra que a poluição afeta quem ainda não pode optar se é melhor andar de carro ou não - diz o coordenador do laboratório, Paulo Saldiva. Pesquisadores não sabem ainda quais os fatores que determinam a diferença. Saldiva avalia que a hipótese mais provável é de que o cromossomo Y, que determina o sexo masculino, seja mais suscetível a mutações. — Os óvulos estão mais protegidos que os espermatozóides.
Uma das vertentes do estudo, desenvolvida por Joabner Breda Gomes, levantou os registros de nascimento na cidade de São Paulo entre 2001 e 2003 em três áreas, classificadas de acordo com a concentração de material particulado. Naquelas onde a concentração era alta, a proporção de nascimentos de meninos era 1% menor do que a na região menos poluída. Na prática, isso significa que, na área mais poluída, nasceram 1.180 meninos a menos do que na menos poluída, entre 2001 e 2003.
— É uma diferença bastante significativa. Principalmente quando se leva em conta que, geralmente, as variações são pequenas - afirma a bióloga Ana Júlia da Faria Coimbra Lichtenfels, que coordenou a pesquisa em laboratório. Cem camundongos foram divididos em duas gaiolas. Uma com ar filtrado e outra com ar ambiente. — Nas gaiolas expostas à poluição, o nascimento de machos foi 24% menor do que na gaiola de ar filtrado - contou.
A pesquisa será apresentada durante a 4ª Conferência Internacional de Emissões Veiculares, que começa hoje em Brasília. Integrantes do encontro vão pedir a redução, em até dez vezes, pelos próximos dez anos, da emissão de óxido de nitrogênio por veículos movidos a diesel no Brasil. Pesquisadores reivindicam ainda a adoção da inspeção veicular. — Em 20 anos, seria possível evitar aproximadamente 47 mil mortes prematuras, 20 mil hospitalizações e 50 mil casos de bronquite crônica se medidas severas para a redução das emissões forem tomadas no País - disse Saldiva.(Agência Estado, 22/06)