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2005-06-23
Por Carlos Matsubara

A antropóloga Ana Freitas não tem dúvidas sobre a compatibilidade ambiental da presença dos caingangues no Morro do Osso em Porto Alegre.

Tamanha é sua convicção que Ana aposta nisso sua tese de doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Seu trabalho derruba por terra o principal argumento dos críticos, que é o da preservação do ambiente natural.

Ana, que também é bióloga e mestre em Ecologia, não é de se acomodar em gabinetes. Vive enfurnada por lá conferindo de perto como os 114 adultos e as 53 crianças caingangues tiram seu sustento do lugar, confeccionando artefatos a partir dos cipós.

A etnia habita mais dois locais na cidade (Vila Safira e Lomba do Pinheiro). Mas são grupos distintos com políticas diferenciadas e organizações próprias. Ela argumenta que os caingangues do Morro do Osso não conseguiriam se sustentar se estiverem juntos com outros grupos. — A origem ancestral é diferente e isso ocasionaria conflitos.

O aldeamento na Lomba do Pinheiro, como quer a prefeitura, seria, segundo a especialista, um modelo falido. Ela o considera uma espécie de tutelamento que anularia a condição do índio como sujeito – político.
— Fere o artigo 4 da Constituição sobre a auto-afirmação dos povos-, destaca.

Esses grupos que vivem em Porto Alegre têm uma matriz sociocultural tradicional que de certa forma opõe-se ao modelo instaurado nas terras indígenas (caciquado) absorvido pela imposição da agricultura. — Isso desestrutura o padrão caingangue que é baseado na pesca, caça e coleta-, explica.

De acordo com a antropóloga, o artesanato é a forma como eles conseguem manter o elo com a floresta e social. Deste modo eles trabalham juntos. — O modelo agrícola separa o homem da mulher, o jovem do velho-, pondera. Este último acaba sendo segregado pela perda de força no trabalho na roça.

Arquitetos da paisagem
Diferentemente dos guaranis, os caingangues não interferem na biodiversidade. Enquanto os primeiros a constroem, o segundo grupo é considerado arquiteto da paisagem, trabalhando as bordas da floresta com o cipó para seu artesanato.

Em sua tese, Ana demonstra como eles controlam a expansão e o crescimento do cipó que constitui uma barreira física nas bordas do fragmento porque estão ilhadas pelo chamado diâmetro urbano. Essa barreira física bloqueia a luminosidade e impede o crescimento de árvores novas, por exemplo, muito embora seja um protetor natural contra o vento e um corredor para dispersão de pequenas espécies.

A bióloga- antropóloga enumera algumas razões pelas quais não há perigo de os índios extenuarem esse tipo de vegetação.
A coleta é intensificada sazonalmente, ou seja, em períodos de festas como natal e páscoa ou feiras na cidade, quando vendem mais;
A divisão dos territórios de coleta é feita pro grupos familiares que manejam de oito a dez pontos diferentes e distantes cobrindo assim vários pontos da cidade que vão do Morro Santana até a Ponta Grossa;
Os espaços de moradia não coincidem com os territórios de coleta.

— É um modo de exploração difuso sem impacto localizado-, afirma. As matrizes que compreendem os indivíduos genéticos nunca seriam cortadas. —Além de tudo, a espessura do individuo – mãe que chega a cinco centímetros não é apropriada para artesanato, que deve ser em média de meio apenas-, explica. O fato de eles utilizarem apenas a parte do crescimento vegetativo e não o indivíduo – mãe , é o que manteria as populações da espécie.

A técnica dos caingangues do Morro do Osso é sofisticada. Eles conseguem identificar cerca de 10 espécies de cipós. O mais utilizado é o marronzinho, que chega a crescer até cinco metros em duas semanas. Cada família tira em média pouco mais de um salário mínimo por mês perambulando com seus artefatos basicamente em dois pontos, o Parque da Redenção e a Praça da Alfândega, no centro da cidade. Como de grão em grão a galinha enche o papo, conseguiram arrecadar mais de dez mil reais para construir 15 moradias já planejadas para quando e se vier, a vitória na Justiça.

Ana defende um plano de manejo para isso. E lembra os críticos que os índios não fazem restrição alguma a isso. — É o que eles querem, aliás-, assegura. Ela acredita que impacto ambiental no Morro do Osso significa o pisoteio provocado pelas trilhas ecológicas promovidas no local, como as visitações de colégios. — Isso ninguém acusa-, lamenta.

A Funai
O secretário municipal do Meio Ambiente Beto Moesch cobrou na terça-feira (21/6) uma solução por parte da Funai. Ele explicou aos vereadores que a decisão cabe a Funai e que a entidade ainda não entregou à Justiça os laudos sobre a existência ou não de sítios arqueológicos indígenas na área. — Temos de resolver esse impasse o mais rápido possível, pois o grupo de caingangues está morando na rua de acesso ao Morro em condições precárias-, disse.

Um estudo preliminar feito em fevereiro pela antropóloga Nadia Binda, da Coordenação Geral de Identificação da Funai, em Brasília, pode resolver de vez a pendenga. Ele servirá para a formação de um Grupo de Trabalho que irá decidir, afinal, a quem pertence o Morro do Osso.

ONGs defendem retirada de índios
Káthia Vasconcellos Monteiro, da coordenação da Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA), no Rio Grande do Sul, salienta que o local é de fundamental importância para a recuperação e a preservação da biodiversidade das áreas naturais da cidade. — O Morro do Osso faz parte do corredor ecológico do extremo sul de Porto Alegre, que se estende até o Parque Estadual de Itapuã-, explica. A ecologista acrescenta que a área de 57 hectares é pequena para abrigar seres humanos e garantir a preservação da sua biodiversidade.

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