Recuperação da aldeia Olho Dágua está quase concluída em Aracruz – ES
2005-06-22
Os índios das aldeias Tupinikin e Guarani, de Aracruz, estão na reta final do resgate da aldeia Olho Dágua. Ao todo já foram construídas cinco casas que deverão abrigar os índios na nova aldeia. Unidos, os índios deverão terminar de construir as casas até quarta-feira (22), para que recebam o povo indígena da região nas terras recuperadas pela comunidade.
A aldeia, que começou a ser ocupada no dia 31 de maio, está situada onde antes havia as aldeias de Olho Dágua e Araribá, localizadas próxima à nascente olho dágua, que dá nome à aldeia.
Para os índios, Olho Dágua, que ainda faz brotar água cristalina entre as pedras, é uma das únicas fontes de água que resistiram à degradação da empresa na região, considerada um símbolo da resistência natural como fonte de vida sagrada para os índios. A área havia sido tomada por eucaliptos da Aracruz Celulose durante a ditadura militar e o terreno foi bombardeado por agrotóxico que contaminou a água e a terra da região.
Além disso, eles têm no local uma verdadeira fonte de resistência à monocultura do eucalipto, já que o Rio Sahy e Guaxindiba estão praticamente mortos, e as outras nascentes já apresentam índices de poluição.
— Pisar descalça nessa terra é como entrar em contato com nossa mãe, com nossos antepassados que estão ali só esperando para serem resgatados de tanta destruição-, ressaltou a índia Iara Tupã.
Com isso, os índios começam a se programar para limpar a terra e iniciar o plantio de mandioca, banana, entre outros alimentos para suprir as necessidades da nova aldeia e ainda plantar árvores nativas para reflorestar o local. Para os índios, a recuperação das nascentes e da terra é uma das principais causas da luta indígena. Com a terra reflorestada, os índios sabem que o povo ficará protegido dentro do território indígena.
Para a aldeia, onde já foi construído também um opu (lugar dos cultos religiosos dos índios), deverão voltar os índios que viviam no local mas que foram embora ao ficarem ilhados pelos eucaliptos e terem seus recursos destruídos.A nova aldeia será ocupada por famílias Tupinikin e Guarani e será comandada inicialmente por todos os caciques. Os índios acreditam que esse é o momento de união e de concretização do sonho de retorno às suas terras.
Além disso, os índios já comunicaram a Multinacional de que a entrada da Visel (milícia armada da empresa) está proibida na área. Esta será a primeira aldeia Tupinikin-Guarani sobre um território recentemente recuperado, da ordem de 11.009 hectares, todo ele coberto de eucaliptos. Apesar do território recuperado não ter sido homologado como terra indígena, os índios têm a certeza de seus antepassados e ainda os estudos de quatro anos da Funai que comprovam que a terra é tradicionalmente indígena.
O processo de autodemarcação dos 11.009 hectares começou no dia 17 de maio e contou com o trabalho de 400 índios capixabas, mas a declaração de guerra à empresa foi divulgada cerca de um mês antes, após assembléia geral do povo indígena, cuja decisão já havia sido comunicada ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e ao presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes. Os índios esperam do ministro que sejam revogadas as portarias assinadas pelo ex-ministro Íris Rezende (PMDB/GO), em 1998, permitindo à Aracruz o uso das terras indígenas. Íris cometeu ato arbitrário, pois contrariou estudo da Fundação Nacional do Índio (Funai), que reconhecia com terra indígena 18.070 hectares no Estado, mas foram demarcados apenas 7.061 hectares.
Esta é a terceira vez na história do Espírito Santo que os índios têm que retomar suas terras com as próprias mãos. A nova aldeia será a oitava dos índios capixabas. (Século Diário, 21/6)