Bancos precisam cobrar normas ambientais, diz relatório do WRI
2005-06-22
As instituições financeiras que recebem créditos de
bancos multilaterais, e que por sua vez concedem empréstimos para projetos
locais são uma ameaça ambiental e social em todo o mundo, advertiu o
Instituto de Recursos Mundial (WRI), de Washington. Esse tipo de crédito
afeta o meio ambiente e dificulta a redução da pobreza. Portanto, é
necessário obrigar as instituições intermediárias a adotarem normas mais
rígidas antes de conceder-lhes empréstimos, afirma um novo relatório do WRI,
uma organização ambientalista independente.
As instituições de intermediação financeira, como os bancos comerciais ou
fundos de investimento, concedem créditos para subprojetos que obtêm de
bancos multilaterais de desenvolvimento: Banco Mundial, Banco Africano de
Desenvolvimento, Banco Asiático de Desenvolvimento, Banco Europeu de
Reconstrução e Fomento, e Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Os bancos multilaterais argumentam que uma forma de cumprir seu mandato de
aliviar a pobreza em todo o mundo é ajudar os países pobres a desenvolverem
suas instituições e seus mercados financeiros e que, mediante esse sistema
de crédito, podem financiar pequenas, médias e microempresas. Além disso,
afirmam que não possuem os recursos nem o pessoal necessários para atender
pequenos projetos de forma direta, porque os empréstimos individuais são
pequenos e há muitos projetos de pequena escala ou subprojetos. No último
ano fiscal, os bancos multilaterais de desenvolvimento financiaram projetos
acima de US$ 35 bilhões em todo o mundo, nas áreas de administração pública,
transporte, infra-estrutura, saúde e educação, entre estas, com um enorme
impacto sobre os países em desenvolvimento.
Muitos desses projetos estão regulamentados em parte por normas ambientais e
sociais dos bancos multilaterais. O relatório do WRI indica que os créditos
oferecidos por esses bancos através de instituições intermediárias ficam
entre 20% e 40% de seus investimentos anuais no setor privado do Sul em
desenvolvimento, mas não se sujeitam às mesmas normas ambientais, sociais
nem de divulgação de informação. Por outro lado, os bancos multilaterais
dizem que não podem se opor ao segredo de confiança que essas instituições
oferecem. Quanto às normas ambientais, o processo de avaliação do impacto
dos projetos das instituições intermediárias costuma ser ad hoc e com falta
de transparência, afirma o relatório.
Devido ao grande impacto desses projetos, os bancos deveriam estender suas
normas aos intermediários, afirma o WRI. — Os bancos multilaterais de
desenvolvimento acreditam que cumprem seu papel apenas criando capacidade
nessas instituições para concessão de créditos - disse Atiyah Curmally,
co-autor do relatório. — Mas nosso documento procura explicar que, embora
isso seja essencial para ajudar regiões como América Latina ou Ásia a se
desenvolverem, deve-se levar em conta as conseqüências sociais e ambientais
desses empréstimos, da mesma maneira como ocorre quando se financia um
projeto diretamente - disse. Emprestar dinheiro para pequenos projetos
altamente contaminantes, como curtumes, pode resultar na contaminação de um
rio local, enquanto um projeto de processamento de madeira pode contribuir
para o desmatamento, caso não seja feito de maneira sustentável.
Além disso, os investimentos em projetos de energia baseados em combustíveis
fósseis podem contribuir para a emissão de gases causadores do efeito
estufa, enquanto as represas hidrelétricas influem no deslocamento de
comunidades locais. Um exemplo de pequeno projeto financiado indiretamente é
o financiamento de exportações brasileiras ou suas subsidiárias por um
empréstimo de US$ 110 milhões do BID através do Banco Bradesco. Outro é a
compra de equipamentos Carterpillar para pequenas e médias empresas de
construção e mineração da Rússia, mediante um programa de créditos
financiado em parte com um empréstimo de US$ 13,3 milhões do Banco Europeu
de Reconstrução e Fomento.
Os bancos multilaterais dizem que não podem impor suas próprias normas
porque, uma vez que concedem os empréstimos, a responsabilidade pelos
investimentos em subprojetos passa para as instituições financeiras
nacionais. Porém o WRI afirma que os bancos deveriam tomar as rédeas do
assunto e recomenda a criação de um mecanismo de avaliação de riscos sociais
e ambientais pelo qual se investigaria as instituições intermediárias e
certificaria sua capacidade de implementação das normas em seus projetos
antes de receberem os empréstimos. — Desta maneira, qualquer interessado
poderia obter informação sobre os investimentos das instituições de
intermediação financeira dos bancos multilaterais de desenvolvimento -
explicou Curmally. (fonte: IPS/Envolverde)