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2005-06-21
Nos países ricos, a causa ecológica costuma vir com desinteresse pelo crescimento econômico e sinalizar a chegada de uma política pós-ideológica, do gosto de populações entediadas com a agenda ideológica tradicional e amedrontadas com o que o futuro possa trazer. Esse ambientalismo com medo de futuro não tem futuro.

Conosco tem de ser tudo diferente. Até recentemente, não entendi a importância da causa verde para a construção de novo modelo de desenvolvimento no Brasil, bom para nós e alentador para a humanidade. Tomara que minha conversão seja repetida por milhões de meus concidadãos. Nosso maior recurso natural é a biomassa brasileira e o que ela pode gerar de energia para nossa economia, de empregos para nossa população e de segurança física e avanço médico para toda a humanidade. A maior reclamação que o mundo tem contra o Brasil é que não resguardamos nosso ambiente e sobretudo nossa Amazônia. Bom pretexto para o avanço de ambições casadas com preconceitos.

A oportunidade e a ameaça encontram-se no mesmo ponto: o imperativo de fazer da causa verde tema central, não periférico, de nossa estratégia de desenvolvimento. Para isso, um futuro governo brasileiro deve comprometer-se com a promoção de todo o espectro de biotecnologias, desde as energéticas até as medicinais. Na fidelidade a esse compromisso, deve recorrer, sem dogma, tanto à iniciativa privada quanto ao empreendimento público, assegurando neste critérios de concorrência econômica, gestão profissional, autonomia decisória (com participação das populações diretamente atingidas) e experimentalismo institucional e técnico. Deve, nesse âmbito, promover o que convém em todas as áreas da economia: a multiplicação de elos diretos entre os setores mais avançados e os mais atrasados de nossa produção e de nossa força de trabalho, cada um desses elos uma fonte ao mesmo tempo de empregos novos e de ganhos de produtividade nos empregos existentes.

Deve começar a comercializar os produtos dessas iniciativas em todo o mundo, sob nosso controle, não sob o controle de multinacionais, como resultados e recursos de um modelo de industrialização e de desenvolvimento que interessará a muitos. Deve desenvolver a Amazônia não como parque ou como cenário de uma atividade agropastoril ou extrativa predatória e autodestrutiva, mas como grande laboratório coletivo desse experimento nacional. Deve organizar a proteção do ambiente em todo o país fora dos parques nacionais para não ficar no regime binário: parque ou vale-tudo. E deve transformar esse encontro do brasileiro com a natureza brasileira em palco privilegiado do aprofundamento de nossa democracia, mostrando como se podem conjugar perícia técnica, realismo econômico e participação social.

Nada será mais útil para induzir no brasileiro a confiança em sua capacidade de reagir e de resolver. E para ganhar do estrangeiro respeito pelo Brasil. Respeito pela nossa capacidade de preservar nosso singular patrimônio natural. Respeito pelo nosso direito e dever de rechaçar a estranha aliança de grande capital, de ativismo bem-pensante e de narcotráfico que nos gostaria de pôr sob tutela. Melhor ainda do que a confiança em nós mesmos e o respeito dado pelos outros é a promessa de viver para sempre num Brasil que, sendo sempre verde, será sempre brasileiro. (FSP/ Roberto Mangabeira Unger, 21/06)

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