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2005-06-21
A cidade vive hoje outro clima, após redução a zero do número de mutilados e o resgate da auto-estima dos habitantes, que voltaram a ter orgulho da descendência pomerana

É outro, hoje, o astral de Vila Pavão, cidade da região pomerana do Norte do Estado, depois que desapareceram de seu cenário os mutilados pelo câncer de pele, frutos da tragédia retratada, no passado, por inúmeras reportagens veiculadas na imprensa nacional e internacional. —Esse quadro já não existe; o índice de deformação foi reduzido a zero, com o advento do Projeto Dermatológico e Rastreamento do Câncer Cutâneo-, garante o seu coordenador, o professor Carlos Cley, da Ufes.

Mas essa declaração do professor Cley não quer dizer que a doença tenha sido erradicada da região. Ela ainda existe e continua atingindo, intensamente, a população, já que as condições que a introduziram na região permanecem as mesmas: a erradicação das suas florestas, que desnudou seus terrenos e expõe seus agricultores , durante o trabalho, a intensa radiação solar. O que deixou de existir, com a ação do projeto, foram os mutilados, que nos anos 70 e 80 apareceram em reportagens, em que fotos aterrorizantes lembravam filmes bíblicos com seus mutilados pela lepra.

— Depois de 12 anos de projeto - constata o professor Carlos Cley - a incidência continua elevada em Vila Pavão. O que mudou é que o projeto tornou-se conhecido e ganhou uma enorme freqüência. Os diagnósticos agora são precoces e permitem o tratamento cirúrgico no local-.

Vale a pena conferir os números da última passagem do projeto por Vila Pavão, ocorrida no mês de setembro próximo passado. Foram feitas 99 cirurgias e 56 cautérios, num atendimento a 395 pessoas. Em 12 anos de projeto foram atendidas, naquele município, 2,3 mil pessoas de uma população de 8 mil habitantes. O professor Cley explica que os pomeranos são genericamente pré-dispostos ao câncer de pele, num índice de 40%. Muito alto, no seu entender.

Quando foi descoberta, em Vila Pavão, a doença logo ficou conhecida como câncer ecológico, denominação que lhe deram ecólogos e dermatologistas. Constituía-se, também, na primeira doença ecológica do País, caracterizada pela exposição excessiva aos raios solares, de uma população de origem européia, que não resistiu (e continua não resistindo) à intensidade do Sol após a perda das florestas que lhe garantiam abrigo.

A doença continua, portanto, fazendo vítimas todos os dias, em Vila Pavão. Só que agora é diferente, confirma Arlindo Lagass, membro da Igreja Evangélica de Confissão Luterana e um dos responsáveis pela infra-estrutura do Projeto. Além de trabalhar no controle do câncer de pele, o projeto, que alcança também outras regiões do Estado, onde é grande a concentração de descendentes de europeus, desenvolve um trabalho preventivo. Os moradores são orientados a se abrigar do Sol, usando roupas adequadas e evitando os horários críticos. São recomendadas duas jornadas de trabalho: uma que termine às 10 horas da manhã e outra que comece depois das 15 horas. O uso do filtro solar, já está incorporado pelos agricultores. (Século Diário, 20/6)

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