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2005-06-20
Assim como cientistas e ambientalistas, investidores internacionais ligados a instituições financeiras do porte de ABN Amro, Allianz, Deutsche Bank, HSBC, Merryl Lynch, entre outras, estão de olho nas emissões de gás carbônico do mundo. Isso porque os efeitos das mudanças climáticas e o modo como as empresas lidam com a poluição atmosférica têm peso cada vez maior em suas decisões de investimentos. Exemplo disso é a iniciativa coordenada pelo Carbon Disclosure Project (CDP, algo como Projeto de Abertura do Carbono, em português), uma organização que tem por objetivo estabelecer relações de longo prazo entre acionistas e empresas, com base no inventário das emissões de gases de efeito estufa. A partir das declarações das empresas, escolhidas entre as 500 maiores corporações mundiais, o CDP formula um relatório, que é distribuído à comunidade financeira e fica disponível no site www.cdproject.net.

Atualmente, 152 investidores institucionais, representando ativos de US$ 21,9 trilhões, fazem parte do CDP, que agora está estreitando as parcerias para convencer as grandes empresas brasileiras a declararem suas emissões e entrar nesse círculo de transparência. No primeiro relatório emitido pelo CDP, lançado em 2002, eram 35 investidores, que representavam ativos da ordem de US$ 4,5 trilhões. No relatório seguinte, em 2003, já eram 95 empresas, representando US$ 10,2 trilhões em ativos.

- A grande idéia do CDP é reunir grandes investidores para pedir às corporações que relatem suas emissões de gases de efeito estufa. Essas informações serão a base para decisões futuras de investimento - resume o diretor-executivo do CDP, Paul Dickinson, que esteve pela primeira vez na América Latina na semana passada para participar da Conferência Internacional do Instituto Ethos. Ele aproveitou a visita para atrair a participação das empresas brasileiras no projeto. Atualmente, o banco Itaú e a Companhia Vale do Rio Doce estão entre os investidores.

Dickinson está em negociação com a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e com a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) para listar as emissões de carbono das 100 maiores companhias brasileiras com ações nas bolsas. A intenção é redigir um relatório, nos mesmos moldes da edição internacional, para pautar investidores do Brasil e do mundo. — Estou impressionado com o Brasil, um País onde mais de 50% do combustível vem de fontes renováveis - disse.

A entrada em vigor, em fevereiro deste ano, do Protocolo de Kyoto, o maior tratado mundial de enfrentamento das mudanças climáticas, ampliou as perspectivas das empresas brasileiras aferirem rendimentos com projetos de redução da poluição. Estruturados, esses projetos permitem a negociação dos chamados certificados de emissão reduzida (CERs), ou créditos de carbono, no mercado internacional.

Paralelamente à iniciativa do CDP, as entidades financeiras do Brasil demonstram interesse em fomentar esse mercado. A BM&F deve lançar, até agosto, um banco de projetos de redução de gases poluentes. A proposta é dar visibilidade a projetos estruturados nesse campo, a partir do site da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (BVRJ). - A idéia é ser um elo entre investidores externos e empresários brasileiros -, explica Guilherme Fagundes, chefe da área de projetos e pesquisas da BM&F.

Até o fim do ano, a expectativa da Bolsa é criar um ambiente regulado para a negociação dos créditos, a exemplo do que ocorre com a Bolsa de Chicago, uma das primeiras a negociar esses ativos, e o Fundo Protótipo de Carbono, do Banco Mundial. - Queremos que as negociações que já vêm sendo feitas entre empresas migrem para a Bolsa - conclui. (Estadão, 15/06)

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